José Paulo Kupfer
Há uma profusão de informações importantes nos resultados do recém-divulgado Ideb – um indicador que cruza diversos outros indicadores da educação pública de nível fundamental e médio, possibilitando a formação de um ranking da qualidade do ensino por estados, municípios e escolas. Mas a principal conclusão apenas confirma o que já é sabido, embora infelizmente nem sempre lembrado: a qualidade do ensino – melhor seria dizer do aprendizado – depende diretamente da escolaridade dos pais.
São inúmeros os fatores que, virtuosamente combinados, levam a progressos na educação: valorização do professor, em termos de salário e acesso à formação continuada, segurança interna e no entorno da escola, material didático e métodos de ensino eficientes, gestão eficaz, dinheiro etc. etc. Tudo isso tem de estar presente, mas sem o fator “pais mais instruídos”, os resultados deixarão a desejar.
O grau de instrução dos pais (e, mais decisivamente, das mães) é um ovo-de-Colombo para o sucesso de políticas de inclusão social. Se faz “milagres” na educação, também opera “milagres” em outras áreas, como a saúde. Sabe-se, por um já sem número de pesquisas e estudos, que crianças cujas mães são mais instruídas, ainda que mais pobres, tendem a ser mais saudáveis. Esse fator está presente, por exemplo, na base da aceleração na redução da desnutrição infantil (ver aqui mesmo no blog texto a respeito).
Esses avanços na escolaridade dos pais, que permitem a escolas públicas de áreas muito pobres apresentarem Ideb campeão, começaram a formar esse intangível e valioso patrimônio familiar, agora aplicado com êxito, na educação dos filhos, ainda nos ano 90, aproveitando o esforço de universalização do acesso à escola. É coisa, junto com a qualificação dos professores, para pelo menos uma geração.
Incentivar a integração dos pais à escola e o comprometimento deles no processo de aprendizado dos filhos talvez seja a ação mais eficiente no desenvolvimento de uma educação de qualidade. A um custo mínimo.
Os resultados do Ideb fazem pensar nos programas de transferência condicionada de renda, do qual o Bolsa Familia é o ícone. A renda destinada ao cidadão pobre fica vinculada à caderneta de saúde e à frequência escolar dos filhos.
Ou seja, os efeitos positivos mais duradouros são esperados para uma geração. Crianças mais saudáveis e mais instruídas, de fato, tendem a se tornar cidadãos mais produtivos.
Críticos desse tipo de programa insistem em desqualificá-lo, sob a alegação que não oferecem “portas de saída”. Martelam o mantra de que os programas dão o peixe sem ensinar a pescar. Querem, no fim das contas, que os cursos de pesca sejam mais rápidos do que o velho madureza.
É evidente que as “portas de saída” não são para os tidos como beneficiários diretos. Estes, lamentavelmente, salvo exceções, já dobraram o cabo das saídas e passaram longe das portas. As portas de saída são para os filhos.
Fica a impressão de que a pressa dos críticos, nutrida na ignorância, nada mais é do que um argumento frágil para resistir a uma sociedade que distribua melhor os frutos do esforço de todos.
L3R ? 3NT40 CL1K N0 4NÚNC10 QU3 T3 1NT3R3SS4 ! 4GR4D3Ç0 !
Seu texto é pertinente e relevante. Podemos dizer que já conseguimos colocar as crianças nas escolas. É preciso agora fazê-las estudar.
ResponderExcluirUma boa medida, como já havia dito, seria vincular o bolsa família ao rendimento do aluno e não somente à frequência.
abraços.