por Rodrigo Vianna
Aprendi a “fazer televisão” na TV Cultura de São Paulo. Trabalhei durante quase três anos lá, entre 92 e 95. Época de ouro. Presidida por Roberto Muylaert, e com Beth Carmona na direção de programação, a Fundação Padre Anchieta (mantenedora da TV Cultura) era um lugar delicioso para se trabalhar. Havia liberdade, incentivo à criatividade e à inovação.
Conto essa história porque me causa tristeza profunda ler a nota publicada porDaniel Castro, no R-7. Sob comando de João Sayad, os tucanos agora querem terminar o serviço na TV Cultura. Falam em demitir 1.400 pessoas. O último que sair apaga a luz.
Quando trabalhei lá, as luzes estavam sempre acesas! Havia estúdios modernos, bons equipamentos, salários mais do que razoáveis. Lembro que os câmeras e técnicos em geral tinham duas referências em São Paulo: Globo e Cultura. Eram as duas TVs que ofereciam melhor remuneração e melhores condições de trabalho.
Era a época do “Castelo Rá-Tim-Bum”, do “X-Tudo”, e do auge de programas como “Vitrine”, “Metrópolis”, “Grandes Momentos do Esporte” e tantos outros. Como jovem repórter (entrei na TV com 22 anos), eu integrava a equipe do “60 Minutos” – um telejornal que ia ao ar das 12h às 13h. Tempos heróicos. Com quatro ou cinco equipes de externa, a gente punha no ar todo dia 1 hora de jornalismo. Muito factual, muita entrada “ao vivo”. E uma equipe inesquecível.
Não vou citar nomes para não cometer injustiças, lembro apenas do Marco Nascimento (diretor de jornalismo sério e com talento pra formar equipes) e da Malice Capozoli (chefe de redação que comandava com segurança e carinho a produção do “60 Minutos”).
Ah, mas a audiência era baixa, dirão alguns. Não era! O “Castelo”, por exemplo, chegou a dar 15 pontos de média no começo da noite. Incomodava as novelas da Globo e ficava em segundo lugar. O “60 Minutos” conseguia 5 pontos de média. Era a segunda audiência em São Paulo na hora do almoço. O “Jornal da Cultura”, à noite, dava cerca de 4 pontos (mais ou menos o que consegue hoje o “Jornal da Band”).
Sabem quem era o governador naquela época? Fleury. Posso dar meu testemunho: nunca interferiu na programação, nunca fez lobby por esse ou aquele assunto. Cobríamos tudo, com liberdade. Quando o mandato dele terminou, Fleury deu uma entrevista no “Roda-Viva”. Eu estava entre os entrevistadores, e lembro de ele ter dito: “nem sei quem é o diretor de jornalismo da TV Cultura, nunca conversei com ele”. Achei aquilo sintomático. O Marco Nascimento (de quem sou amigo) nunca tinha ido ao palácio fazer “beija-mão” do governador. Era assim que as coisas funcionavam.
O Muylaert (que presidia a Fundação) tinha proximidade com FHC, virou até ministro dele no começo do primeiro governo. Durante a campanha presidencial de 94, nunca pediu nada ao jornalismo. Cobrimos Lula e FHC com total liberdade.
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