Hermafrodita

 Copia de uma escultura grega no Museu do Louvre - França. 
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E. M. de Melo e Castroé

Hermafrodita
De Hermes e de Afrodite o filho esbelto e amado,
de Salmacis oscula o corpo melodioso,
e a ninfa treme e ondeia o moço deslumbrado,
com um prazer que chega até a ser doloroso...

Ela – dócil, a arfar, como, ao vento, as searas...
Ele – forte, a arquejar, como, com cio, um touro...
O cabelo da ninfa inunda as duas caras,
e há beijos musicais sob essa chuva de ouro...

Enleandos um ao outro, a asa de uma mosca
não caberia não! entre esses corpos belos,
que se enroscam, sensuais, febris, como se enrosca
no tronco a vide em flor, e a hera nos castelos.

Dos dois corpos a união, entre lascivos ais,
cada vez, cada vez se torna mais completa,
e aquelas coxas cada vez se agitam mais:
uma brancas, de luar, outras rijas, de atleta...

Num doido frenesi, entrar parecem querer
ela – no corpo dele, ele – no corpo dela!
Choram, gemem, dão ais... e no auge do prazer,
começam a gritar para o céu que se estrela:

– «Ó deuses! atendei esta súplica ardente:
se é verdade que ouvis as vozes que vos chamam,
os nossos corações, fundi-os num somente,
fundi num corpo só nossos corpos que se amam!»

Chegou ao vasto Olimpo a rogativa louca;
e Zeus, o grande Zeus, cuja força é infinita,
as duas bocas transformou numa só boca,
e dos dois corpos fez um só: 

HERMAFRODITA!

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