Tentativas de fuga inúteis

Quando uma lembrança forte se instala, seja ela de uma dor por uma despedida, por uma perda, não adianta forçar um esquecimento: é pura perda de tempo. Quanto mais se deseja esquecer um rosto, um olhar, um perfume, um beijo ou um abraço, mais forte essas lembranças ficam e abrem espaço para tristezas, e aí, quando menos esperamos, o peito se comprime, o coração se aperta e as lágrimas ficam ali, espreitando o melhor momento para se esconderem num travesseiro cheio de saudades.

A letra da música "Seguindo em Frente" tem uma poesia incrível! Realmente, cada um de nós carrega a sua história e precisa do dom de ser capaz para assumi-la, para vivê-la... Sem nos darmos conta, escrevemos, todo dia, um capítulo, mesmo que seja um capítulo tolo, uma coisa sem graça, mas é uma coisa compulsória, mesmo que decidamos fugir para um sono ajudado pela canção de ninar de um copo de vinho.

Nem conto as vezes que fugi para as cores de um pôr de sol de um desses dias que parecem acabar nunca ou para as caminhadas despretensiosas em direção a lugar nenhum, como se houvesse um refúgio, uma casinha branca depois de uma curva, mas aí, acabava sentado à beira de um caminho sem nome, escondendo o rosto entre as mãos, como se fosse possível esmagar a angústia. Certa vez, gritei ao vento, chamando pelo nome que deixou de vir ao meu encontro, e que compunha comigo todas as rimas irresponsáveis dos amantes.

No deserto das dunas distantes não existe eco e o vento se encarrega de levar para onde sopra a insensatez de uma insistência que quer apagar uma despedida que já aconteceu e ficou sem volta, perdeu a cor e todos os sons. Outra vez, tentei a mentir para a imaginação, inventando um nome, fazendo um caminho diferente, querendo me esconder nas entrelinhas de um texto sem graça, procurando atalhos pobres para disfarçar um óbvio forte, determinado. Ninguém encontra sombra nas entrelinhas. É ali onde ficamos mais expostos ao ridículo das intenções pálidas.

Fugi para o fim do mundo, fui ao encontro das luzes do norte e só consegui ver a aurora boreal e no meio de um nada absoluto e gelado o pensamento tinha o nome dela e nunca quis tanto a sua companhia para me aquecer com a metade do seu abraço perfumado. No meio desse nada, eu senti medo, quase pavor, quis correr, mas estava muito longe para uma fuga rápida e apenas fiz um caminho de volta, tentando me proteger com o meu próprio abraço, fazendo o caminho de volta sobre os rastros que deixei sobre a neve.

Foi ali onde deixei o marco de chegada um norte distante e vazio. Num outro momento, apaguei as luzes do quarto, apaguei as luzes e me abracei ao travesseiro, mas por mais que fizesse um silêncio quase absoluto, podia escutar o caminhar de fantasmas arrastando suas correntes de saudade doentes, feitas de elos de lembranças teimosas.

Ninguém escapa de si mesmo. Ninguém esquece os melhores e mais vivos capítulos de uma história que teve suas alegrias cheias de esperanças arvoradas de eternidade. Ninguém consegue fugir de si mesmo, da sua carga, da sua história, da sua sina, por mais que se tente. É tudo inútil, pura perda de tempo... Melhor seguir em frente, como na música que parece ter sido composta para cada um de nós.

A. CAPIBARIBE NETO
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