Tristezas, lamentos e lamúrias
Existem aqueles que só conseguem chamar a atenção alheia como arautos de notícias ruins ou debruçados em lamentações as mais diversas. A vida não é feita só de alegrias, de festas, de carnaval, de folia, de boas taças de vinho. A tristeza é o contraponto.
O dia seguinte pode deixar um sorriso bobo no rosto do que participou ou a cara fechada ou arrependida pelo que fez consciente ou, principalmente, inconsciente. A vida também é feita de cansaços e ressacas, de dores de cabeça e promessas de "nunca mais" que só duram até uma nova oportunidade. Aquele que está feliz dentro de uma relação, dificilmente dispõe de tempo para dividir com os circunstantes as razões de tanta completude.
É um egoísta justificado. No máximo, quando é ingênuo ou gabola, se lambuza com as facilidades da permissão alheia, fazendo comentários sobre o que fez, com quem fez ou deixou de fazer porque não quis, por aí. Para as confissões sobre as tristezas que se instalam, para as lamentações, as dores, principalmente as que doem na alma, via coração despedaçado, ou as lamúrias, que a nada levam como a sua própria definição, existe sempre um ouvinte paciente ou um confessor de plantão para escutar ou oferecer um ombro amigo para o conforto do desconfortável confidente.
A vida é feita de desafios, a começar pelo desafio de viver, que, nos dias atuais, é quase uma façanha de sobreviver diante de tantas ameaças urbanas, mundanas, corriqueiras em cada esquina, em todo lugar. A vida é feita de conquistas, das menores, das mais supostamente insignificantes àquelas que exigem maior esforço, maior dedicação, objetividade e perseverança. A vida também é feita de calma, de calmaria, aquela que sempre chega depois das procelas, a chamada bonança. A vida é um perde-e-ganha, como um dia é da caça e o outro pode ser do caçador.
Nessa vida, muitas vezes somos um alvo fácil para a alça da mira de um atirador anônimo, capaz de acabar, numa fração de tempo, com o sonho de uma vida inteira... Mas, quantas vezes não estivemos apontando as nossas armas implacáveis para o inimigo que consideramos mortal, muito embora o nosso disparo seja apenas para satisfazer um momento de ódio sem perdão.
A vida é um misto de muita coisa, de pouca coisa, de quase nada. De discursos longos, prolixos, infindáveis; de explicações amarelas, desnecessárias, de justificativas que dependem do juiz que existe dentro de cada um de nós: o mais severo, o que não aceita mentiras, por mais disfarçados que sejamos, descarados, caras de pau, cínicos, artistas.
A vida é cheia de silêncios oportunos que podem significar muito mais que um milhão de palavras, porque esconde, com fidelidade, o que realmente sentimos, o que vai na nossa alma, no nosso coração. "El silencio puede ser una resposta..." - foi assim que começou uma história de amor da qual fiz parte e depois deixei de ser na moldura de um silêncio cínico.
Na vida, somos quase sempre juízes a nosso favor e dificilmente apontamos nosso dedo, mesmo para as culpas mais bobas, mais banais. Temos sempre razão, mesmo quando passamos muito longe do que isso possa significar.
Ao longo da vida, somos capazes, competentes, fracassados, arvorados, seja lá do que for; somos arrogantes, prepotentes, valentões contra os que reconhecemos como mais fracos ou covardes diante da certeza da nossa fraqueza ou vulnerabilidade.
A vida é assim, cheia dessas divagações, quando não brincamos carnaval, quando preferimos ficar dentro de casa, cercado por silêncios conhecidos ou pela algazarra moleque de vizinhos indesejáveis. O título da crônica... bem, o título, vejam bem, é apenas um título, não uma apologia a essas mazelas que chamam atenção, nem que seja por um breve momento no alto de uma página.
A vida é assim mesmo!
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