por Cesar Maia

CONSEQUÊNCIAS DE AMPLÍSSIMAS VITÓRIAS ELEITORAIS! O CASO DO BRASIL!
                  
1. Brizola dizia que, quem ganha tudo numa eleição, leva tudo, inclusive os problemas políticos. Não tem com quem repartir as responsabilidades, pois tem todo o poder. Não há espaços suficientes para todos os que ganharam juntos a eleição. Não há transferência possível. E o eleitor sabe disso e, já que lhe deu todo o poder, não aceita desculpas e vai cobrar por isso.
                  
2. Os exemplos são inúmeros, e desde muito tempo. O rei Luis Filipe e seu partido venceram as eleições parlamentares de 1846 com 80% dos deputados. A oposição acusou o uso e abuso da máquina. Em 1848, a monarquia naufragava.  O Plano Cruzado, em 1986, deu ao PMDB o controle de quase todos os Estados (menos um), do Congresso e da Assembleia Constituinte. Foi o início do naufrágio que abriria o caminho para Collor. Blair e seu partido trabalhista arrasaram na eleição de 2005, o que deu início a um impressionante declínio de Blair, que teve que abrir mão do cargo de primeiro ministro para Brown, antes do final do governo. Etc., etc., etc.
                  
3. Claro que essa não é uma lei e não há qualquer compulsoriedade nisso. Mas mostra que vitórias eleitorais arrasadoras exigem outra dinâmica na condução, na coordenação política, de governo e parlamentar. É uma dinâmica diferente de quando a oposição tem peso específico e, com isso, dá ao governo melhor condição de conseguir a unidade dos seus, pelo risco que implica uma dispersão. O governo Sarney, já citado, é exemplo disso. E o governo e seu partido podem, com muito maior facilidade transferir responsabilidades: "A oposição obstrui e não deixa governar...", e por aí vai.
                  
4. Um equilíbrio parlamentar relativo quase sempre leva à estabilidade política. Um desequilíbrio parlamentar, o contrário. Não se vê 'expertise'  política na equipe do Planalto, incluindo aí o ministro de articulação política. Essa equipe -Dilma, Palocci, Carvalho e Sergio- tem dado mostras de incompreensão desse processo. Acham que falar duro e exigir ordem unida e fidelidade canina é fazer política num quadro desses. A receita, em geral, é bem diferente:  criar uma certa plasticidade para acomodações e até deixar fluir alguma força centrífuga, aliviando o peso da maioria.
                  
5. E pelo jeito não estão satisfeitos: querem ainda mais. Essa história da janela indiscreta para um novo partido transgênico em direção à base do governo é um exemplo. Só vai agravar a indigestão política.

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