No céu, a lua pela metade era apenas uma referência maior. Deixei a Internet na tela do computador e fui descansar os olhos mergulhando no céu estrelado. Numa fração de segundo, estava viajando, percorrendo distâncias indizíveis, subindo o mais alto possível para, lá do alto, procurar o brilho do teu rosto que não conheço. Me bastaria escutar o som da tua voz e poderia segui-lo, como quem segue um rastro conhecido porque já sabe de quem são as pegadas. E voltaria correndo, sem precisar adivinhar formas e contornos nos campos vastos e férteis da imaginação, onde o poeta cria, fantasia, devaneia, sonha...
Dos teus olhos já me disseste, são dois retalhos de mar sereno em manhã de sol. Não sei como é a tua boca, mas tenho desenhado aqui dentro, onde as fantasias se acumulam e se agigantam, o teu sorriso, a tua gargalhada solta, vencendo distâncias, chegando bem perto. Quase te posso sentir o perfume e sem me dar conta, experimento uma saudade especial dentro dessa ausência, como se estivéramos juntos uma vida inteira.
Chegaste de mansinho, como as primeiras luzes de um dia radiante que vai tomando o lugar da timidez da madrugada e beijaste meu rosto com um raio de sol apenas morno. A solidão magoada no meu retiro voluntário foi a de um pássaro que ganhou uma liberdade que não sabia o que fazer com ela. Voltei à gaiola, onde um dia cantei duetos com amor que supus eterno e encontrei a gaiola vazia. Fiquei sem saber o que fazer com o céu, com os horizontes.
Acordaste o menestrel e me fizeste cantar outra vez. Provo, agora, de emoções que supunha mortas. Estão mais vivas que nunca porque milagres acontecem. Quando a gente menos espera. Minhas esperanças, que do verde passaram ao amarelo sem graça das derrotas, assumem as primeiras cores avermelhadas de um camaleão das paixões, de um amor que chegou, entrou acanhado, abriu os braços e fez confidências no aconchego da cumplicidade.
Até parece um conto de fadas... "Num conto de fadas/ um carpinteiro/ sozinho sem nada/ também sem dinheiro/ amava a princesa/ mais linda da terra/ e tinha certeza/ que nada era pra ela/ mas um dia..." lembrei da música, versão brasileira arranjada para o "If I Were a Carpenter". A diferença é que foi teu beijo de voz que me acordou, tirou-me da letargia do comodismo de uma espera doente, sem jeito, condenada por mil absurdos e incoerências.
Estou vivo! Pulso! Meu coração bate mais forte, meu peito parece que vai explodir. Fada! Fada madrinha do meu milagre, desse despertar gostoso, dessa espera por uma linha, por duas, mil, cheias de palavras acanhadas, sem jeito, num contexto de medos diante dos direitos que todo mundo tem de ser feliz. Nós estamos. E é bom conjugar o verbo na primeira pessoa do plural, sem ligar para as regras, para as convenções, para as fronteiras que a sociedade determina, como se fosse possível aprisionar o pensamento, encarcerar vontades, limitar fantasias e conter impulsos. Sou teu milagre, és o meu sonho maior de voltar a ser feliz.
Não me importo se amanhã, quando raiar um novo dia, eu desperte para a realidade desse conto e tudo acabe na última página de um livro que a gente gostaria que nunca terminasse. Não importa. Vivi um sonho, fui parte de uma história. Mesmo que nunca te segure nos braços, que nunca te carregue no colo, eu te abracei, deitei do teu lado, fiz amor contigo e vivi uma felicidade que só vive quem consegue entrar num conto de fadas. Fada!
A. Capibaribe Neto,
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