por Carlos Chagas


UM PROBLEMA SEM SOLUÇÃO

Deve um detentor de mandato, executivo ou legislativo, dispor da prerrogativa de fazer negócios? Não se fala de exercer funções de direção ou propriedade de empresas, que a lei proíbe, mas de exercer diretamente ou  através de parentes e laranjas uma série de atividades, mesmo honestas, envolvendo o mercado.

Pela ética, não deveria. Nem poderia. Dirão os cultores da objetividade que cercear um cidadão só porque se encontra no exercício de um mandato contraria os princípios da liberdade, da livre empresa, da sã concorrência e da própria democracia.

Por conta disso é imenso o número de deputados, senadores, vereadores, prefeitos e governadores que enriqueceram no exercício dos mandatos, e não  terá sido por economizar seus proventos. O conluio entre o poder e os negócios costuma cheirar  mal mas não é proibido. É freqüente o fato de políticos que passaram a vida inteira sendo eleitos acabarem milionários, mesmo existindo muitos obrigados a trabalhar, depois de perder eleições.

Fazer o quê diante da evidência de ser a política um caminho para o enriquecimento? Através de leis, não dará certo. Muito menos obrigar os políticos a praticar a ética, predicado que só depende de cada um, acima e além da legislação.

Pior fica a situação quando o político já era empresário, pois, fora as exceções de sempre, continuará nessa condição,  agora bafejado pela manipulação do poder e das influências a ele inerentes. Existem os que se tornam empresários quando são políticos, ostentando nesse caso goelas ainda mais abertas. Note-se não estarmos cuidando, hoje, da corrupção e de negócios escusos. Apenas de negócios.

No México, no começo do século passado, adotou-se uma solução cirúrgica: “no reeleciones”. Ninguém poderia ser reeleito para o mesmo cargo que ocupava. Mesmo assim, admitiu-se que um deputado poderia disputar o Senado, e um governador, a presidência da República. Tudo continuou na mesma.

É sonho de noite de verão imaginar o eleitor desatando o nó, simplesmente não votando mais nos que enriqueceram. A riqueza constitui excelente passaporte para a vitória nas urnas. Em suma, eis aí um problema sem solução.

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