Política

[...] e o Destino

Sempre achei que política é destino. O que tem de ser, será, como na canção "Whatever Will Be Will Be", que deu o Oscar a Doris Day no filme O homem que sabia demais, do velho Hitchcock, feito no Marrocos em 1956 (Mário Lago fez uma versão engraçadíssma para essa música que conquistou o Brasil inteiro). Vejam os exemplos, velhos ou recentes, em toda parte. No Ceará, o senador José Lins Albuquerque, homem de bem, currículo riquíssimo, lutou muito para chegar ao governo do Estado. Na hora, em meio a uma história complicada, foi preterido e teve de dar o lugar para Gonzaga Mota, um desconhecido economista do BNB. Tasso cuidava de suas empresas e não pensava em política, apesar de filho de senador (Carlos Jereissati, que morreu do coração em pleno mandato, aos 46 anos). Mas os políticos foram buscar Tasso, arrastaram-lhe pelos cabelos. Foi governador três vezes, e projetou o Ceará lá fora. Ciro pelo menos era suplente de deputado, depois deputado, depois prefeito de Fortaleza, depois governador, depois ministro e não parou mais. Está aí na agulha e quer ser presidente da República e só ainda não foi, apesar de derrotado uma vez, por ter sido vítima de uma pilantragem política que não cabe contar aqui. Dilma algum dia pensou em presidir o Brasil? Jamais foi diferente de tantos outros que cuidavam da vida comum. Daí achar que política é destino. Há políticos que se preparam desde cedo, persistentemente, e jamais conseguem chegar a tanto. Por que nunca me dediquei à política? Bom, devo dizer que, como tanta gente, posso até ter a tal vocação e me falte aptidão, aquilo que justamente me daria todo o conjunto de silêncios e atitudes, que está na essência do homem político, com a fascinação e a obstinação do poder.

O destino, nesse ponto, preservou-me. Não me adiantariam tentativas, porque nada representariam diante do que está escrito no livro maior, de conteúdo enroscado em nossa alma e que a vida mal pode afrouxar. Quando o destino não traça, não convém olhar o tempo todo para as estrelas, porque aí acaba caindo no fundo do poço. E, o que é pior, o destino tem ciúme da nossa prosperidade, e deixam os cardos durarem mais que as rosas. Fazer o quê?

Hélio Passoshp@secrel.com.br 

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