O Nordeste, como todos sabemos, por sua formação, é a matriz da formação brasileira, seja no aparato burocrático que lá chegou e se montou a estrutura do que mais tarde seria o Estado brasileiro, seja na unidade na diversidade da sua formação cultural. Assim como na construção da sociedade brasileira, com seus ranços, avanços e transformações.
Pela formação étnica originária, há um senso religioso muito intenso, mas, há, também, um calendário de festas que, curiosamente, entrelaçam sagrados e profanos. Em dezembro, celebra-se o natal, não apenas em família, mas com festas em inúmeros municípios com bandas regionais e até mesmo artistas da MPB.
No Reveillon, a celebração continua. Depois, antes de iniciar o carnaval, há uma série de pré-carnavais. Quando finda-se a quaresma, seguindo a tradição originária da festa, celebra-se o carnaval, a festa pagã, como chamava nos primórdios. Quando o calendário oficial do carnaval termina, não termina no NE, pois as cidades que não fazem carnaval, comemoram as micaretas. Na verdade, a micareta era uma festa eminentemente baiana, mas ultrapassou as fronteiras da Bahia e invadiu toda a região e, hoje, vai além das fronteiras nordestinas, pois outros estados também realizam-na.
Finalmente junho chega, a celebração, neste caso, também inova e ganha vertentes. Por mais que o calendário das festividades no NE tenha sido originário do sagrado, hoje as celebrações não ganham mais tais vertentes, elas profissionalizam a cada ano e, a vocação do nordestino para gostar de festas, consagra cada vez mais bandas e artistas regionais.Se no passado, artistas saíam da região para virem para o SE, a fim de serem conhecidos além do regional, hoje, esta realidade mudou consideravelmente. O intenso trabalho de divulgar uma região imensamente permeada de brasilidade, de aceitar a inovação, mas não abrir mão de sua identidade, permite por parte de muitos, o agradecimento destes que de lá saíram e abriram o caminho para os que, a cada ano chegam e, com talento ou não, celebram os festejos nordestinos.
Portanto, com imensas festividades, junho e meados de julho encerram o calendário intenso de festividades que acompanham a região. A tradição junina de comidas típicas, de pular fogueira, dançar quadrilha e dançar forró até o Sol raiar, assim como o carnaval, atrai multidões. Se temos o maior carnaval do mundo, em junho, temos o maior São João do mundo, ambos reconhecidos pelo Guiness. É o Nordeste e sua vocação para a celebração, eu diria. Mas tais celebrações não existiriam com tanta intensidade se não houvesse na construção cultural comum, o celebrar.
Mas, assim como o carnaval que inova a cada ano sem sair da tradição de seus respectivos estados, no São João, também acontece a mesma coisa, temos toadas, forró tradicional, forró moderno, axé, MPB e sertanejo. É uma festa tipicamente do interior, mas as capitais também celebram. São mais de mil municípios em festa e com atrações de peso, são de São Joões badalados a são joões comuns.
O que tem a ver isto com a Copa? Ora, por ter toda a estrutura montada, será o lugar que o turista encontrará não apenas Sol para ir à praia, mas conhecerá um outro Brasil que, quando rodar o país acompanhando sua seleção, perceberá as diferenças regionais, suas formas culturais e não apenas isto, verá que todo o país celebra a vitória da seleção, mas verá uma região que tem vocação para receber e celebrar a vida com intensidade e alegria. Não que os outros não a façam, mas o costume de manter tradições no NE, fazem este diferencial, penso.
Por razões econômicas que beneficiem alguns que estão organizando a Copa, li outro dia num blog e até ouvi isto na TV, que querem tirar alguns jogos do NE e centralizarem no SE. Não há problema, isto não vai diminuir a vocação da região e o nordestino não vai deixar de celebrar. Para que vocês compreendam o que estou a falar a acerca das festas, selecionei alguns São Joões para que conheçam nossa alegria e a forma de vivermos.
Para que possam compreender, as cidades fazem suas festas, mas onde está especificado o forró, está se referindo a festas particulares em algumas fazendas que montam estruturas e fazem uma festa com o estilo de blocos, ou seja, a pessoa compra a camisa e tem direito a entrada, comida e bebida inclusas.
Mariana Silveira
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