por Carlos Chagas


Carlos ChagasREDUNDÂNCIAS EXTEMPORÂNEAS

Não se dirá que a crise envolvendo Antônio Palocci teve causas administrativas, pois foram apenas patrimoniais, mas poderia muito bem ter sido. Porque desde o governo Fernando Collor, com  Itamar Franco de fora, que tem gente demais no terceiro andar do palácio do Planalto. Assessores e ministros fazendo a mesma coisa, batendo cabeça e cultivando superposições de tarefas. Por que, por exemplo, a presidente Dilma Rousseff dispõe de Casa Civil e Secretaria Geral, dois órgãos cujas atribuições se entrelaçam, muitas vezes conflitam-se, tornando seus titulares até adversários?

Não adianta dizer que em todos os governos os dois ministros são amigos, dão-se muito bem, as famílias se freqüentam e vivem aos abraços, porque a vida não é assim. Um fica de olho no trabalho do outro. Investigam as atenções que o presidente dedica mais a este do que àquele. Preocupam-se com a repercussão de suas iniciativas nos meios de comunicação. Até o lugar nas fotografias, à direita ou à esquerda do chefe, é motivo para disputas.  A redundância de ações complica mais do que resolve.

Tudo começou no governo Collor. Para acomodar o cunhado diplomata, o jovem presidente criou a Secretaria Geral, paralela à Casa Civil. Itamar desprezou a divisão. Fernando Henrique inventou a Secretaria Particular, que era muito mais pública, depois outra vez  denominada de Secretaria Geral. O  Lula manteve a dualidade, com José Dirceu e  Dilma Rousseff na metade maior e Luis Dulci na menor,  apenas  por questão de personalidades distintas. A sucessora conservou a fórmula, ainda que a indicação tanto para a Casa Civil quanto para a Secretaria Geral partisse do antecessor: Antônio Palocci numa, Gilberto Carvalho na outra, designados pelo primeiro-companheiro.

Ganha uma viagem a Bangladesh, só de ida,  quem descobrir quem faz o quê, acima e além do organograma burocrático indicando coordenação administrativa para um e contato com entidades sociais, para outro. Na verdade, todos os dias, ambos sentam-se ao lado de Dilma,  para análise da conjuntura e dos problemas do dia. Atropelam-se quando alguma iniciativa incomum precisa ser adotada.

Na hipótese da defenestração de Palocci, seria o caso de a presidente resolver a questão. Reunir as duas estruturas numa só, tanto faz se for com Gilberto Carvalho, Fernando Pimentel, Paulo Bernardo ou outro. Seria bom que o escolhido fosse buscar experiências com Ronaldo Costa Couto, o último chefe da Casa Civil, no governo José Sarney, a não dividir e a centralizar as funções de primeiro-ministro ad hoc. Esfalfava-se, perdia horas de sono, mas controlava o governo, uma espécie de peneira que preservava o presidente. Sua receita era uma só: cercar-se de bons auxiliares, delegar competências mas exercer na plenitude suas funções de chefe da casa do  presidente da República.

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