A nova luta de classes

Talvez algum sociólogo, quem sabe um cientista político ou um economista, daqui a alguns anos, venham a dedicar tempo e espaço buscando explicar o fenômeno Lula-Dilma. Tanta popularidade fluiria apenas de ações administrativas quase todas corretas e competentes, quer dizer, resultado da aceitação dos dois governos pela maioria? Ou a resposta deve ser buscada no extremo oposto, ou seja, nessa maioria, mais do que nos dois governos?
                                      
Podemos estar assistindo a versão moderna da luta de classes, não mais plena de batalhas nas ruas, golpes e sucedâneos, mas um embate igualmente profundo entre as massas e as elites, só que pautado pela não-violência. Marx ficaria insatisfeito se pudesse vislumbrar resultados  pacíficos num confronto que em seu tempo só se resolveria pela força.
                                      
O Lula pode dar-se ao luxo de eleger uma candidata desconhecida para sucedê-lo, ainda que jamais para substituí-lo, pela simples razão dele ser ou de ter sido um operário, e ela, não.  Um problema futuro para Dilma, que não amealhou um voto sequer por ter sido guerrilheira. Como não teve dificuldades, até agora, em concentrar a mesma popularidade de seu criador, conclui-se que a resposta vem  das fábricas e da enxada. Pertence à legião sindicalista que hoje se imagina no poder. Ou seja, o sucesso da Dilma é uma projeção do  Lula.  
                                      
Realidade ou ilusão, a popularidade da dupla exprime a luta de classes, refletindo-se no sentimento da maioria. Vale o Lula  pela imagem criada, o sonho tornado evidência, de que os operários e camponeses, afinal, chegaram lá. E a Dilma, por dar continuidade ao sonho com uma pitada de sisudez, mas sem esquecer o bolsa-família. 
                                      
Existem contradições nesse embate milenar entre as massas e as elites. Estas  ajeitaram-se com o primeiro-companheiro, que não regateou presenteá-las com benefícios, e agora compõem-se com a sucessora, mas permanecem discriminadas pelos que votam e, por enquanto, decidem. Cada um dos privilegiados que pesquise o sentimento verdadeiro de suas empregadas domésticas, motoristas, serviçais e trabalhadores humildes. Como dessa  dita emergente nova classe média. Ouça os passageiros dos trens suburbanos e do metrô,  se conseguirem viajar com  eles. No fundo, instintiva e até inconscientemente, está a rejeição às elites. O povão continuará votando a favor do Lula, ou  em quem ele indicar,  por ser o Lula povão. O voto fluirá majoritariamente  contra os privilegiados, aproximando-se mais um teste nas eleições do ano que vem. Muitos fingem a inexistência desses fatores, uns por esperteza, outros por ressentimento, mas a verdade é que  as massas encontraram alguém saído delas para exercer o comando. Pouco importa que   se frustrariam caso examinassem a fundo os resultados desses dois  governos pretensamente dos humilhados e ofendidos. Mas o fator primordial  repousa na luta de classes. Felizmente sem as  conturbações do passado. Indaga-se, apenas: até quando?

de Carlos Chagas

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