[...] fora a inapetência para exercer o cargo, nada.
Tucanos optam pela ‘autodestruição’ da espécie
Com mais de duas décadas de vida sobre a Terra –o PSDB completa 24 anos em 25 de junho—, o tucano atinge em 2012 o mais alto grau de civilização. Alcança uma capacidade de domínio das forças e dos mistérios da natureza de que nenhum outro ser vivente jamais se aproximou.
O tucano tornou-se o único animal a atingir conscientemente o que todos os outros só alcançam pela inconsciência: a autodestruição da espécie. Todos seremos destruídos. Mas o tucano, tomado de corajosa estupidez, é o único que apressa o próprio extermínio, realizando-o.
Em São Paulo, a cinco meses do início do horário gratuito de televisão, o tucanato oferece ao eleitorado cinco opções. Tem quatro candidatos que debatem os problemas da cidade e se dispõem a disputar numa prévia a preferência do partido. São eles: José Aníbal, Andrea Matarazzo, Bruno Covas e Ricardo Trípoli.
Tem um candidato que não se diz candidato e não se anima a disputar prévias com os outros quatro. Chama-se José Serra. Diante desse quadro, os bicudos que comandam o ninho já fizeram uma opção. Optaram pelo não-candidato. Coube a Geraldo Alckimin verbalizar a decisão. Vale a pena ouvi-lo:
“Se ele quiser ser candidato é um ótimo candidato. Essa é uma decisão pessoal do Serra, que nós devemos aguardar.” Supondo-se que Serra decida virar o que diz não ser, o PSDB convidará o eleitor a fazer papel de idiota, acomodando na prefeitura um sujeito que não deseja ser prefeito.
Normalmente, um políticos nega a condição de candidato para esconder o jogo e confundir os adversários. Não é o que se passa com Serra. A dúvida do preferido do PSDB é feita da mesma matéria prima que o fez trocar a candidatura presidencial pelo governo do Estado em 2006: o medo. Medo de ser derrotado por Lula.
Em 2010, Serra venceu a hesitação. Trocou o medo pela ousadia. Foi à sorte dos votos contra Dilma Rousseff. Após uma campanha ruinosa, perdeu a Presidência da República para a poste de Lula. Em 2012, escanteado pelo partido da partida de 2014, Serra volta a flertar com o pavor.
Tomado pelo último Datafolha Serra é desejado por 21% do eleitorado e rejeitado por 30%. Algo que o faz temer uma nova derrota, dessa vez para Fernando Haddad, o novo poste de Lula, dono de 4% das intenções de voto. A falta de apetite e o pavor de Serra oferecem munição fácil aos antagonistas.
Não é preciso ser um gênio do marketing para intuir o que dirão Haddad e Lula nos palanques e na propaganda televisiva. Eles constatarão: beleza, Serra é o candidato do PSDB. Depois, perguntarão: eleito, o que Serra tem a oferecer a São Paulo? E responderão: afora a inapetência para o exercício do cargo, nada.
Contra os tucanos Aníbal, Covas, Matarazzo e Trípoli pode-se dizer muita coisa. Falta-lhes o acessório (a experiência de Serra). Falta-lhes também o essencial (votos). Mas ninguém pode acusá-los de covardia. Exibem disposição para o embate e vontade de administrar a cidade.
Se o PSDB acha que pode disputar uma eleição com o único candidato que foge da briga, problema dele. Como ensinava Jânio Quadros, “política é como fotografia: se mexe muito não sai.” Tratando a cotoveladas quem se mexe para ganhar o foco, o tucanato se auto-extingue e ajuda a levar Haddad ou qualquer outro à foto da posse.
- Em tempo: ilustração via ‘Nani Humor’.
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