por Carlos Chagas
Não terá havido um só brasileiro deixando de comemorar as boas notícias dadas pelo Lula a respeito de sua recuperação. Festejamos todos, petistas e tucanos, flamenguistas e corintianos. Feliz, mas cauteloso, o ex-presidente se disse pronto para voltar a fazer política, mesmo com a ressalva de que de agora em diante cuidará mais da saúde.
Aqui surgem as primeiras indagações. Claro que ele se dedicará de corpo e alma à campanha de Fernando Haddad. Ainda que sem ter lido Proust, sairá em busca do tempo perdido, oxigenando a candidatura até agora estagnada. Dificilmente, porém, o Lula sairá por todos os estados onde o PT apresenta candidatos à prefeitura das capitais. Um ou outro, como exceção, verá o primeiro companheiro em seus palanques. Mensagens gravadas substituirão sua presença nos demais.
Por diversas vezes, antes de adoecer, o ex-presidente sustentou que em 2014 a vez seria de Dilma buscar a reeleição, um direito dela apoiado por ele. A pergunta que não quer calar, porém, refere-se à possibilidade de alteração nesse quadro. Pode ser que a presidente não queira, hipótese factível apenas na teoria. Como pode ser que diante do inusitado dos últimos meses, precisamente por estar recuperado, o Lula venha ceder aos apelos que já se ouvem em consideráveis grupos do PT, no sentido do “volte logo”. Em 2014, portanto. A iniciativa poderia partir da própria presidente, numa reverência a mais sobre quem efetivamente lidera o partido.
No reverso da medalha existem argumentos para que o ex-presidente seja poupado. Quatro anos, no mínimo, de atividades intensas, deixariam nele marcas profundas. Além do que, demonstra a experiência, o retorno muitas vezes prejudica.
Como fator a ser analisado no devido tempo está a performance dos adversários. Caso o PSDB se afirme nas próximas eleições municipais, ao tempo em que candidatura Aécio Neves venha a tornar-se consenso absoluto no ninho dos tucanos, o que fariam os companheiros para tentar manter o poder? Estimulariam Dilma à reeleição ou, na razão direta do crescimento do nome do ex-governador de Minas, buscariam derrotá-lo com munição pesada, ou seja,o Lula?
Essas dúvidas não precisam ser solucionadas de pronto. Pelo contrário, devem ser cultivadas ao sabor dos acontecimentos e das circunstâncias. Inclusive à luz das alianças partidárias.
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