Chico Buarque de Hollanda canta comigo desde que nasci. Acompanha-me nos versos e reversos. Hoje já pouco me importa se ele sabe disso, mas ele é minha trilha sonora e me deve direito emocional.
Ele me chama de mulher porque sua melodia é a constatação de que o outro, o que não mora em mim, ainda é capaz de me ver.
A primeira vez que vi Chico “ao vivo”, foi dentro do que é hoje o estacionamento do Espaço Mascarenhas, em Juiz de Fora. Ele já era meu homem idealizado – feito de letras, melodias, dor feminina e olhos verdes. E então ele e eu, cada um em seu lugar emocionalmente delineado, já cantávamos juntos as mulheres tristes, as mulheres emancipadas, as mulheres abandonadas, as mulheres no tapete atrás da porta.
E ele só, em brado retumbante, já exaltava também sozinho os homens sem chão das mulheres que partiam. Das mulheres que davam o troco.
E os Pedros Pedreiros e seus fabulosos fardos.
Depois ele voltou, no Cine Teatro Central, inaugurando aqui o seu maravilhoso “As Cidades”. Mas ainda havia nele a pública timidez que intimidava as garotas e excitava as mulheres. Eu ainda era mais ou menos garota, mais ou menos mulher.
Mas o homem que subiu no palco do VivoRio, todo de preto, e com uma alegria travessa é outro? Claro que não. Nem eu, esputefata ali, era outra. Somos apenas mais velhos.
Sim. O Chico que vi está mais velho, à vontade e generoso com o público. E em se tratando de Chico, isso é manchete.
Seu novo disco está lindo. Postei aqui uma defesa à música Querido Diário porque ela é esplêndida e foi mal interpretada pelos maus intérpretes.
Mas sinto Senhores: eu disse também que nossos ouvidos sempre precisam se acostumar com o novo. Pois não há nada de novo no novo CD do Chico que não seja absolutamente belo.
Chico fez um show impecável. Além das dez músicas do novo CD, cantou mais dezoito dos seus clássicos.
Fez parceria com Wilson das Neves em Sou Eu; emocionou a platéia com Desalento (vai e diz a ela que eu entrego os pontos), trouxe de volta a Geni e – apaixonado por uma moça jovem – não deixou de relembrar no palco a música que sempre haverá de ser da Marieta, porque cantada com sua voz, na Ópera do Malandro: O Meu Amor.
Chico largou o violão e andou pelo palco, microfone em punho, para cantar, cantar e cantar, ineditamente.
Chico flertou com o Rock.
Chico fez Sinhá.
E, principalmente, Chico fez um clássico.
Um clássico de se assobiar: Se eu Soubesse (Mas acontece que eu saí por aí, e aí larari, lairiri…)
Um clássico para apaixonados.
Que Alegria!
da Joana
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