Desencontros
Me desencontrei algumas vezes com ele. Quando cheguei no Rio em 1962 — sem emprego, sem dinheiro, sem perspectivas, mas com amigos — a Clarice Lispector se ofereceu para marcar um encontro meu com ele. Talvez houvesse algo para mim na agência em que ele trabalhava — ou dirigia, não me lembro mais. Também não me lembro se cheguei a falar com ele por telefone. Acho que não, e que nunca sequer ouvi a voz do Ivan Lessa. De qualquer maneira, o encontro não aconteceu.
Depois, na minha convivência esporádica com o Millor, o Jaguar, o Ziraldo, o Tarso e outros na época do “Pasquim”, por alguma razão o Ivan nunca apareceu. Estava sempre para chegar ou tinha acabado de sair. Anos mais tarde um grupo foi convidado a ir a Portugal — Millor, os Caruso, Aroeira, eu e outros — para uma exposição de cartuns, se não me falha de novo a memória. Estávamos hospedados num hotel de Estoril e foi anunciado que o Ivan Lessa, que vivia em Londres, estava na terra, onde vivia sua mãe, e iria se encontrar conosco no hotel.
Finalmente, pensei. O mito vai virar gente e eu vou poder conhecê-lo e dizer como o admiro. Mas me convocaram para uma entrevista ou coisa parecida em Lisboa justamente na hora da visita dele. Foi nosso último desencontro. Agora não tem jeito. Fiquei só com o mito.