[...] Que discurso atrairia ao mesmo tempo ativistas de causas ambientais e empresas exploradoras de recursos não renováveis? A comissão brundtland conseguiu, com o uso competente das palavras, atingir um nível altíssimo de mimetismo. Senão vejamos:
A comissão define ‘desenvolvimento sustentável’ como “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer as gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades”. Como esse termo abrange tudo e ao mesmo tempo não significa nada, ele foi interpretado como a melhor forma de se equilibrar crescimento econômico e preservação da natureza, assumidos como conceitos opostos.
Importante nessa terminologia é que ela pressupõe um conceito de desenvolvimento linear, legado da teoria da modernização do período pós II Guerra Mundial, para o qual a única forma de se atingir uma vida melhor é aumentar o consumo das pessoas. Preservação ambiental, então, torna-se um impeditivo do desenvolvimento via modernização, já que diminuir o padrão de consumo é condição para a preservação do meio ambiente. Daí a necessidade de se equilibrar crescimento e preservação.
Entretanto, a idéia de se impedir o crescimento econômico a qualquer preço, implica a necessidade de mudança em relação ao sistema atual vigente, focado, principalmente, no aumento do PIB. Entretanto, o uso de ‘futuras gerações’, acaba levando, na prática, a uma idéia de ‘não emergência’ para se mudar o sistema.
O resultado disso é uma enorme produção de reuniões e papel escrito em que se mede quem é o melhor ginasta linguístico, e que se usa de forma combinada um discurso de expansão do consumo para corporações e governos, e um discurso verde para organizações da sociedade civil e ativistas, atraindo todo mundo para o mesmo barco, mas sem definir nada, sem deliberar, enfim, sem se por em contato com a realidade. É, simplesmente, o conservadorismo escondido atrás do reformismo. A tucanização, no conceito do Macaco Simão, do desenvolvimento para que nosso futuro seja igual ao nosso presente.
por Zazof
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