Caçar é um verbo transitivo direto que designa aquele que caça e na quarta acepção do termo, no dicionário do Houaiss, significa, entre outros, apanhar, recolher donativos, procurar insistentemente, catar, buscar (objeto, palavra, emprego, solução etc.) e em futebol, perseguir o adversário com lealdade. Meme foi um termo criado em 1976 por Richard Dawkins no seu best-seller O Gene Egoísta, é para a memória o análogo do gene na genética, a sua unidade mínima. É considerado como uma unidade de informação que se multiplica de cérebro em cérebro, ou entre locais onde a informação é armazenada (como livros) e outros locais de armazenamento ou cérebros. No que diz respeito à sua funcionalidade, o meme é considerado uma unidade de evolução cultural que pode de alguma forma autopropagar-se.
Dadas as explicações, vamos à caça dos fatos que desde as primeiras fumaças, alertando que havia fogo, nunca foram boatos, e o pior: a fumaça fedia. Demóstenes foi cassado. Preso no emaranhado das acusações sérias que davam conta de suas ligações com um contraventor, talvez na sua inocência ou pela certeza de que havia escudo forte e impenetrável, pela sua condição de senador da República, capaz de livrá-lo da molecagem que veio à tona, Demóstenes apelou para o sentimentalismo, não dos brasileiros de memória curta, mas capazes de se enternecerem com o bandido que chora, pede perdão num derradeiro episódio de sua história sórdida; o sentimentalismo daqueles que são tão frios quanto ele mesmo, quando enfiam a mão, sem dó nem piedade, nos trinta dinheiros que surrupiam dos cristos inocentes que perambulam, principalmente pelas estradas poeirentas ou esburacadas do Nordeste coitado desse Brasil. Dos oitenta senadores, 56 o jogaram no rio para o gáudio das piranhas.
Devorado Demóstenes até os ossos aparecerem, ficaria mais difícil "excomungar" outro membro da mesma quadrilha tão cedo. Ele não é um coitadinho, mas não foi e nem será o último a se locupletar com as facilidades dos becos atapetados por onde passeiam, lépidos e fagueiros, os átilas da política brasileira, aqueles que por onde estendem seus tentáculos, aprofundam a miséria dos "paraíbas" escarnecidos no sul do Brasil. Dezesseis votaram contra a cassação do senador e cinco lavaram as mãos enquanto o "pobre coitado", em terno bem talhado, barba bem feita, mas com o semblante triste virava "meme" na mesma hora em que deixava o Palácio da Mil e Uma Noites e orgias afundado na certeza de que as tetas da vaca madrinha secaram. Por conta do nível ou da necessidade de manter um retalho de dignidade, não abaixou a cabeça como fazem os marginais comuns quando são detidos pela polícia. Talvez tenha até feito pior, porque pediu, implorou, valeu-se de toda a sua verve para não ser defenestrado da cadeira de couro azul do imenso circo.
A novela chegou ao fim. Daqui pra frente, a cassação de Demóstenes serve de lição: é preciso ter muito cuidado quando avançar naquilo que não lhe pertence ou tirar vantagens em detrimento de milhões de eleitores. Se tiverem vergonha na cara, os outros membros da quadrilha melhor fariam se se aconselhassem ou introjectassem as lições dadas por um casal de moradores de rua que devolveram os dinheiros que não lhes pertencia por conta de educação modesta que lhes deu a mãe humilde. É oportuno sugerir que a maioria desses senhores de ternos caros e que se arvoram de paladinos da justiça deixem por algum tempo suas barbas de molho ou cuidem de lustrar com discrição suas caras de pau.
A. CAPIBARIBE NETO - capi@globo.com
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