Crônica de A. Capiberibe Neto


Desencontros sem fim

São as emoções dos desafios e das ousadias que minimizam a monotonia da mesmice. Mas emoções em demasia acabam por se tornar monótonas. Emocionante não significa necessariamente uma coisa boa, mas até pode ser, depende do contexto. 

É difícil contextualizar a emoção de cada momento porque para elas acontecerem é imprescindível que duas pessoas estejam envolvidas. Pode até existir emoção em saltar de um avião, de pilotar um carro, de ganhar na loteria, mas tudo acaba com alguém na outra extremidade. 

Pessoas se encontram e se desencontram. Se acham e se perdem. Acham que acharam a outra metade que os torna gêmeas até que descobrem que são opostas, quase radical ou diametralmente. Uma é preta, a outra é branca e isso não tem nada a ver com o preconceito, mas com o gosto que determina preferências.

Uns adoram o amarelo, enquanto outro o verde, o azul, o fúxia e por aí vai, mas o pior desencontro é quando um se decide por mudar de atitude e o outro já se cansou de esperar.

E desencontros assim não têm hora para acontecer. Pode ser ao raiar do dia, no meio da noite, de madrugada, acabando a ilusão de uma noite de amor que descamba para a tristeza de uma despedida inesperada. Todos os dias, milhares de encontros são marcados e muitos deles não acontecem ou são adiados, cancelados ou alguém pura e simplesmente nem se lembra, mostrando que nem era tão importante assim comparecer, sem ligar para a outra metade que ficou esperando com ansiedade. 

Um amigo me contou que no meio de um almoço descontraído mandou pelo garçom um bilhete que deveria ser entregue discretamente: “prefiro a ousadia de falar de seus olhos mágicos a me esconder na covardia de lhe não lhe dar meu telefone...” 

Escreveu e pediu que o garçom entregasse à mulher bonita sua mensagem. Encontrei com ele dias depois, lembrei do que me havia dito e perguntei: “e aí, aquela pessoa ligou?” Que nada! Foi a resposta. Ele me afirmou que a mulher o encarara por diversas vezes com seus olhos verdes penetrantes e que ele não viu outra alternativa que não fazer a abordagem. 

Outro desencontro que nasceu no encontro de dois olhares cúmplices. Por que ela não ligou? Talvez as amigas que estavam com ela a tenham dissuadido, ou porque foi atrás de saber que era o autor da bilhete ou porque perdera o interesse ou perdera o número.

O destino é assim, cheio de brincadeiras, prega peças, se diverte. Uns escrevem bilhetes e mandam, outros recebem bilhetes e insinuam que quem sabe, talvez, e nunca fazem nada do que insinuaram, provocando um desencontro entre uma ousadia para descobrir um nome e um telefone oferecido que ficou mudo com uma esperança que foi sumindo até perder a lembrança do rosto bonito, dos olhos verdes. “E se você voltar ao mesmo restaurante e encontrar com ela de novo, vai fazer o quê?” Fingir que nunca a vi mais gorda, que não estou nem aí... - respondeu frustrado. 

De que adianta? O desencontro já aconteceu e isso faz parte do jogo da vida. Desistir de um ruim aqui e achar que encontrou outro melhor logo ali pode acabar em novo desencontro marcado pela decepção ou pela frustração de encontrar uma pedra pintada de dourado e uma pepita de ouro que não chamou a atenção.

Um desperta para a vida, o outro morre. Um amor acaba e outro amor chega ao fim. Um se enche de esperança, o outro descobre que perdeu a última, exatamente aquela que morre. Repare bem, veja quantas coisas você encontrou ao longo de uma semana e quantas perdeu. 

Quantas vezes chegou cedo e foi embora porque não quis esperar ou quantas vezes se atrasou, nem que tenha sido para cumprir uma promessa de mudança para transformar a rotina de uma mesmice com as mesmas promessas que nunca cuidou de realizar... São desencontros por cima de desencontros... É a vida! 

Um comentário:

  1. MARCO ANTÔNIO LEITE DA COSTA18 novembro, 2012

    VERSOS MALUCO

    ESTE MUNDO É MUITO LOUCO, HOMENS DOENTES,

    VIVER É PERIGOSO, NÃO TEMOS PAZ,

    NAÇÕES GUERREIAM, DITADORES QUE TIRAM A VIDA DE MUITOS

    COMPATRIOTAS,

    FILHOS DROGADOS, MULHERES CORCOVAS E ESTRABICAS,

    MOTORISTA EMBREAGADO, JOGADOR DE BARALHOS,

    HOMEM QUE ROUBA, POLÍTICO QUE SE PERVERTEM,

    POLÍCIA BANDOLEIRA, POETA QUE POETEIA NO CANTO DA SALA,

    CABO DE GUARDA CHUVA, CHUVA QUE MOLHA A CABEÇA DO VELHO,

    CARRO ROUBADO, BARCO FURADO,

    SAMBA DE MORRO, TANGO ARGENTINO,

    POETA DE LATRINA COME BOSTA E BEBE URINA,

    SANGUE DE BOI, DOENÇA CONTAGIOSA,

    SAPO ENTERRADO NO CAMPO DE JOGO, CARETA DE CRIANÇA,

    MASTURBAÇÃO DE ADOLESCENTE, VAMPIRO DA MADRUGADA,

    POETA DA PERIFERIA, CABEÇA DO FILOSOFO,

    FIM DA BICHA, BICHO DE PÉ,

    SAPATO FURADO, ROUPA RASGADA,

    FIM DO MUNDO, FIM DA VERSIFICAÇÃO,

    TUDO ACABA EM PIZZA.

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