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Crônica dominical de A. Capibaribe Neto


A soma dos dias passados
Imagine-se hoje, aqui, agora, diante da soma de todos os dias da sua vida. Feche os olhos e pense principalmente na pessoa que está na sua companhia. Há quanto tempo estão juntos? Um ano, dez, vinte? 

Experimente passar um filme bem rápido na sua memória, lembrando o segundo exato em que se conheceram. Agora imagine onde você estava dez segundos antes do encontro e na possibilidade de evitar que vocês se conhecessem. Por exemplo, se você, ao invés de ter seguido em frente e deixar que tudo acontecesse como aconteceu ou se pudesse voltar no tempo, evitaria todas as consequências em decorrência desse encontro até o momento em que você parou diante da soma de todos os dias da sua vida; se pudesse escolher virar a esquina, para tomar um cafezinho ou se deter numa banca de jornal, nem que fosse por cinco segundos para ler uma manchete de jornal ou perguntar as horas a alguém... 

O que você faria, honestamente? 

Seguir em frente e deixar que tudo acontecesse como estava escrito ou mudar o destino que o trouxe até aqui? 

Algumas vezes, de brincadeira, fiz essa pergunta a várias pessoas. De vinte, apenas duas responderam que seguiriam em frente e teriam, sim, conhecido a pessoa com quem estavam. 

Dezoito teriam parado para o cafezinho e dessas dezoito, doze responderam que mudariam depressa a direção que estavam seguindo. 

Quem pensa assim, carrega uma bagagem enorme de arrependimentos. 

Não estão felizes com a vida que levam e se lhes fosse permitido, teriam escolhido outro caminho, outra estrada, beco, o que quer que fosse, mas que lhes possibilitasse ter uma experiência diferente da que tiveram. Mas tudo não passa de uma suposição só para permitir um momento de reflexão sobre o que já aconteceu e o que poderia ter acontecido. Ora, o que já aconteceu não pode mais deixar de ter sido e sonhar com o que poderia ter sido diferente é impossível. Se prever o futuro é muito difícil, prever o passado para mudar a soma de todos os dias dele é definitivamente impossível. 

Fiz isso também. Parei diante da soma de todos os meus dias. 

Escolhi uma determinada época e somei todos os meses desse período, todos os dias, todas as horas, minutos e segundos. Contei mais de 417 milhões de segundos; uma eternidade! Debrucei-me sobre esses segundos e tentei lembrar o que aconteceu desde o primeiro deles, quando sai de onde estava, caminhei menos de dez passos e a minha vida mudou. Radicalmente! Se tivesse parado para fazer uma ligação, beber um copo d´água, assinar um documento, abrir uma gaveta, seguramente tudo teria sido diferente, mas não foi. Sabendo de cada uma das consequências que advieram pelo fato de ter caminhado os passos que me levaram ao destino que seria traçado a partir daquele instante, cheguei à conclusão de que teria ficado onde estava e teria fechado a porta e ficaria ali por mais uma hora, um dia, um ano! Tanto arrependimento assim? Não, tantas coisas que teria evitado que acontecessem. Coisas que machucaram corações alheios e o meu também; coisas que arrancaram lágrimas nos olhos dos outros e o destino se vingou e arrancou dos meus também. Teria evitado alguns primeiros abraços, primeiros beijos, primeiras mentiras, desculpas e a bola de neve que ficou grande e rolou a montanha esmagando sonhos pelo caminho. E as coisas boas? Como ficam os milhões de segundos de felicidade, de alegria, de risos, gargalhadas, as taças de vinho, as viagens pelo mundo, as descobertas, as fugas românticas, os encontros ardentes? 

A soma dos segundos bons foi bem maior, é verdade, mas eles valeram a pena? 

Não teria sido melhor mesmo ficar trancado na sala? 

Nunca vamos saber por que é a mesma coisa que ficar planejando que faríamos se ganhássemos na loto. E aí, quando sabemos do resultado tudo vira fumaça até o próximo sorteio, até a próxima reflexão sobre a soma de todos os dias passados...

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