Olhe para esse Barack Obama. Observe como ele se movimenta, como pisa num palco com segurança e mira a plateia com serenidade, até com alguma superioridade. Ouça-o discursar, escandindo bem as sílabas e virando a cabeça para um lado e para outro, demonstrando domínio absoluto do ambiente. Esse homem elegante, reeleito presidente dos Estados Unidos, ele não está nesse cargo por condescendência. Ele não foi eleito e reeleito por ser negro. Não. Ele foi eleito e reeleito porque era o melhor candidato. Pegue Lula como contraponto.
Lula é um herói. Porque Lula é um ex-operário e sempre será um ex-operário. Lula teve de se superar, teve de vencer o seu próprio passado de retirante do Nordeste para se tornar um vencedor na vida. Não interessa se você gosta ou não dele, se acha que ele é honesto ou desonesto, se conclui que ele fez um bom ou um mau governo. O que interessa é que Lula emergiu do pântano, da base da pirâmide, e se elegeu presidente do Brasil.
Barack Obama não é um herói. Barack Obama pode ser um grande estadista, pode ser um presidente histórico, mas herói ele jamais será por sua trajetória pessoal. Porque Obama estava preparado para ser o que é. Ele teve condições para se transformar num legítimo presidente dos Estados Unidos. Isso significa uma grande vitória, do tamanho da vitória de Lula.
Só que a vitória de Lula foi pessoal, foi a vitória heroica de um homem só, enquanto a vitória de Obama é uma vitória da sociedade americana. É uma vitória dos Estados Unidos. Com suas políticas ações afirmativas, com suas leis de equilíbrio social, os Estados Unidos deram condições a negros como Obama de estudar nas melhores escolas, de se alimentar bem e de ascender na comunidade até se empoleirar no ponto mais alto, no topo da tal pirâmide social, no cargo de presidente da República.
Há mais brancos do que negros nos Estados Unidos. Há muita discriminação e racismo nos Estados Unidos. A sociedade continua estratificada nos Estados Unidos. Mas, nos Estados Unidos, todos têm chances de vencer na vida. O Brasil, ao contrário dos Estados Unidos, é um país miscigenado e de elástica tolerância racial. Tanto que as políticas afirmativas de cunho racial, por aqui, foram aplicadas com tamanho atraso que se tornam discriminatórias. Como definir alguém, no Brasil, como negro, pardo ou branco, se todos estamos misturados? Há racismo no Brasil, claro que há, em toda parte do mundo há racismo, mas o grande drama do brasileiro é a discriminação social.
Por isso Lula é um herói. Porque Lula venceu, e continua vencendo, a discriminação. Lula foi torneiro mecânico, perdeu um dedo na prensa, fala errado, bebe cachaça. Lula é um pobre, sempre será um pobre, mesmo que esteja rico. Ele venceu por ele mesmo. Obama não precisou vencer por ele mesmo. O sistema americano venceu, com a vitória do Obama. Lula, ao se eleger presidente, mostrou que é um gigante, talvez seja maior do que Obama. Os Estados Unidos, ao elegerem Obama, mostraram que o país não precisa de gigantes. Porque o verdadeiro gigante é o país.
Emergir do pântano por formas desonestas é submergir no mar de lamas. Só tem valor aquele que emerge do pântano de forma honesta e ética, como O Ministro Joaquim Barbosa.
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