Paulo Coelho: ao maior de todos


Atravessando a Avenida Copacabana - Eu tinha editado, com meus próprios recursos, um livro chamado "Os Arquivos do Inferno". Todos nós sabemos o quanto é difícil publicar um trabalho, mas existe algo ainda mais complicado: fazer com que ele seja colocado nas livrarias. Todas as semanas minha mulher ia visitar os livreiros em um lado da cidade, e eu ia para outra região fazer a mesma coisa.


Foi assim que, com exemplares de meu livro debaixo do braço, ela ia atravessando a Avenida Copacabana, e eis que Jorge Amado e Zélia Gattai estão do outro lado da calçada! Sem pensar muito, ela os abordou e disse que o marido era escritor. Jorge e Zélia (que provavelmente deviam escutar isso todos os dias) a trataram com o maior carinho, convidaram para um café, pediram um exemplar, e terminaram desejando que tudo corresse bem com minha carreira literária.

"Você é louca!" eu disse, quando ela voltou para casa. "Não vê que ele é o mais importante escritor brasileiro?"

"Justamente por isso", respondeu ela. "Quem chega aonde ele chegou, precisa ter o coração puro." O recorte no envelope

As palavras de Christina não podiam ser mais acertadas: o coração puro. E Jorge, o escritor brasileiro mais conhecido no exterior, era (e é) a grande referência do que acontecia em nossa literatura.

Um belo dia, porém, "O Alquimista", escrito por outro brasileiro, entra na lista dos mais vendidos da França, e em poucas semanas chega ao primeiro lugar.

Dias depois, recebo pelo correio um recorte da lista, junto com uma carta afetuosa sua, me cumprimentando pelo feito. Jamais entraria, no coração puro de Jorge Amado, sentimentos como o ciúme.

Alguns jornalistas - brasileiros e estrangeiros - começam a provocá-lo, fazendo perguntas maldosas. Jorge, em nenhum instante, se deixa levar pelo lado fácil da crítica destrutiva, e passa a ser meu defensor em um momento difícil para mim, já que a maior parte dos comentários sobre meu trabalho era muito dura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário