Crônica dominical de A. Capibaribe Neto


Nas entrelinhas das Estrelas

Certa vez, me perguntaram a razão de "Estrelas Esquecidas" e já faz muito tempo... Por algum tempo, adotei "Amanhã Será Um Novo Dia", que era uma crônica escrita por meu pai e lida numa emissora de rádio da Capital. Desde há muito, o romantismo agoniza, e junto com ele o cavalheirismo, os bons modos, as mensagens de carinho, amizade e amor. Acabaram os papéis de carta sobre os quais escreviam-se as notícias e as saudades que levavam um tempo gostoso de espera para chegar através do carteiro. Acabou tudo. Agora é instantâneo, imediato, sem surpresa, sem romantismo. Os tempos sãos outros. E quem dá importância a falar de amor se o amor foi substituído por ficar e esse ficar dura pouco porque o amor agora é passageiro e nem dá tempo para se curtir o "eterno enquanto dure". Que tempos são esses? Quem tem tempo para curtir uma noite estrelada em um lugar mais afastado, sem a invasão das luzes de uma cidade qualquer? Da Lua, nem se fala. Cultivei o costume de dar de presente uma Lua grande para a pessoa querida que estivesse ao meu lado e falar das estrelas que brincavam de piscar ao lado dela.

A contumácia da violência que passou a ser uma rotina a qual as pessoas subsconscientemente se acostumaram deixam uma preocupação quanto aos lugares que escolhem para estacionar ou para ficar. E seus olhares estão ligados naqueles que sempre parecem suspeitos, num possível bote covarde de um marginal impune ou na possibilidade de um cano de revólver dizer se alguém vai viver ou morrer ali mesmo por um nada qualquer, principalmente se não tiver nada no bolso para "pagar"pela vida.

Faz muito as estrelas estão esquecidas, mas ainda teimo em contá-las e cantar para elas nos pensamentos e para onde procuro fugir carregando comigo as saudades mais sadias e as benquerenças interrompidas. A profusão das luzes nervosas dos carros e avenidas congestionadas não dão espaço a ninguém para espiar o céu, por mais limpo que esteja e nem mesmo a imensa Lua cheia de todo mês, principalmente em agosto, chama mais a atenção.

Guardo com carinho as inúmeras cartas de românticos e românticas que nem eu, que recebi pelo correio tradicional e depois os e-mails que visitaram a minha caixa eletrônica... Pessoas que me ajudaram a cuidar dessas estrelas e que as contavam, embalavam e nunca esqueciam delas. Tudo na vida é passageiro... Aquilo que um dia começa está fadado a acabar quando a gente menos espera, faz parte do círculo e do circo onde, às vezes, fazemos graça feito palhaços animados ou nos assustamos com o urro das feras no picadeiro.

Extasiamo-nos com os audazes trapezistas e nos enternecemos com as suaves bailarinas que rodopiam na ponta dos pés. Invejamos a coragem do domador que ao estalar o chicote faz as bestas se acalmarem e nem notam que ele morre de medo de se descuidar e ser atacado numa fração de segundo por uma fera atenta. A vida é um circo e a própria Terra um imenso picadeiro. Ao mesmo tempo somos palhaços, domadores, feras e bailarinas e tudo a céu aberto, sob as luzes das estrelas que não podem e nem devem ser esquecidas. No lugar de "estrelas esquecidas" eu espero que sempre que vocês olharem para este cantinho do jornal possam dizer que não existiu lugar onde as estrelas tenham sido mais lembradas por um homem apaixonado que teve a sorte de viver essa experiência maravilhosa que é a vida e aqui mesmo escreveu suas fantasias nas linhas e aproveitou a magia das entrelinhas para falar dos amores escondidos, mas jamais esquecidos.

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