O mundo acabou?
Hoje deveria ser um dia comum para todas as pessoas espalhadas pela superfície do planeta Terra, mas o mundo pode ter acabado. Esta crônica foi escrita no dia 19, dois dias antes do propalado fim do mundo. Não importa como ele tenha acabado, o que pode ter sido uma pena para quem mal começou a entender a complexidade de viver uma experiência maravilhosa que foi viver, independentemente das dificuldades, problemas, desafios, vitórias, derrotas, enfim, de todas as mazelas, incluindo aí as armadilhas nas quais muitos caem atraídos pela facilidade das ilusões, das fantasias ou das desculpas para escapar do inevitável. O mundo pode ter acabado, mas ainda pode estar girando como sempre girou desde o primeiro rodopio em volta do sol ameaçador e cada vez mais quente e considerado vilão nesses últimos dias. Existem muitas possibilidades de vocês estarem lendo estas mal traçadas linhas, como diria Sérgio Porto e estarem por aí comendo as goiabinhas da estação.
Do alto da minha janela já sem mais graça, vi um homem imóvel deitado sobre um banco de cimento às 3:40 da madrugada. Como ele estava descalço e não se movia, imaginei que os sapatos podiam ter-lhe sido roubados, como é comum na Beira-Mar, com polícia ou sem ela, mas como depois de quinze minutos a observá-lo na avenida deserta e sem se mexer, resolvi descer para saber se ele estava vivo ou precisando de ajuda. E fui até ele. Olhei de perto e notei que seu peito se mexia lentamente. Toquei de leve no braço dele e perguntei se ele estava bem. O homem abriu os olhos sem pressa e encarou-me com naturalidade. "O senhor está precisando de ajuda?" Ele sentou-se, procurou pelos sapatos e sem demonstrar revolta respondeu: "quem levou não irá muito longe... (e riu) e não, não estou precisando de ajuda, não, senhor. Obrigado pela atenção. Resolvi ficar e esperar pelo fim do mundo perto do mar. Se o mundo for acabar em fogo eu corro para dentro d´água.
E quem levou meus sapatos não conseguirá ir muito longe porque o mundo vai acabar para ele também..."Bati no ombro do desconhecido e fiz meu caminho de volta para a moldura da mesma janela que me foi cúmplice de reflexões, lamúrias, tristezas, medos e sobressaltos. Não levei mais que dois minutos do banco ao retângulo da janela e quando espiei lá pra baixo, a madrugada estava mais calma e vazia que nunca. O homem havia desaparecido. Ou foi no encalço do ladrão barato ou em busca de um lugar mais quieto, talvez numa das jangadas adormecidas na praia para esperar pelo fim do mundo. O dia de hoje, bem pode estar sendo um dia comum, quente, cheio de gente carregando presentes, cheio de esperanças pelas festas fartas do Natal. A gente nunca sabe.
Como estou escrevendo dois dias antes do provável fim do mundo, aproveito pera me desculpar pelos erros que cometi, pelas ofensas, pelas mágoas e decepções que causei aos que me queriam verdadeiro bem e dizer do meu arrependimento pelos erros mais graves e por ter caído nas armadilhas que podia ter evitado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário