A última frese sussurrada


Desde o início, quando todas as coisas criadas na superfície da Terra deixaram a escuridão através do "faça-se a Luz", e a Luz se acendeu pela vontade do Criador que orienta a fé de cada um, estava implícito que a concessão da vida seria passageira. Com o passar dos tempos, as criaturas aprenderam a se acostumar com a presença de seus entes queridos e aí, quando um dia o mesmo Criador chama de volta um filho querido para a Sua companhia, os que ficam são obrigados a atravessar a frágil ponte que conduz o ser passageiro à porta de entrada para a sua vida eterna. E essa decisão, às vezes apressada, do Onisciente, Onipresente e Onipotente, só é aceita com muitas tristezas, muitas lágrimas por ser inevitável.

"A vida é uma contínua coleção de mudanças e a correria de cada dia e desafios impossíveis de recusar nos levam, involuntariamente, a desconsiderar as fabulosas oportunidades que temos de explorar os seus profundos mistérios e a esquecer a simplicidade de ser feliz e fazer o outro se sentir feliz ao nosso lado. A importância de entender que todos nós temos algo de valor em nossos corações a partilhar nessa vida é o que faz a diferença na transformação de um dia no dia seguinte. A vida não faz promessas quanto ao que surgirá no seu caminho nem dá garantias daquilo que vamos ter, ela só dá tempo para escolher e arriscar. Ninguém conhece os mistérios da vida ou seu sentido maior, todavia, para aqueles que estão dispostos a acreditar em sonhos e em si mesmos, a vida é um dom precioso em que tudo é possível, mas é imperioso nunca esquecer e aceitar que ela é passageira..."

E assim, aceitar que um ente muito querido vá atender ao chamamento do Criador para responder às suas divinas interpelações é se preparar com serenidade para a nova experiência de habitar na companhia dele, mas implica atravessar todo um vale de lágrimas onde só com o passar de muito tempo será capaz de acalentar os que ficam com a penosa tarefa de transformar em saudades as lembranças de uma ausência difícil de assimilar. Somente a fé e a crença na esperança do reencontro na eternidade é capaz de acalmar as dores de despedidas assim.

A vida é uma jornada que nos é imposta cheia de desafios e surpresas ao nascermos, e a estrada em que viajamos é mais mágica do que jamais imaginamos, pois guarda segredos que só descobrimos quando já não podemos mais compartilhá-los. Às vezes, só é possível entender as lições da fragilidade da vida através do despertar da humildade que esquecemos dentro do coração, e aí, o espírito se ajoelha para chorar sua dor pessoal, indivisível, difícil de consolar, impossível de comparar. Só consegue entender a dor das lágrimas alheias aquele que chora pela mesma saudade, pelas mesmas lembranças que permanecem em cada canto, em cada lugar, como tesouros que perdemos todo dia. Quando o bater mais forte do coração traduzir as lembranças e as saudades pelo som da voz amada, pelo rastro do perfume, pelas lembranças dos gestos, pela companhia querida, é preciso estar atento às mensagens dessas emoções, pois é quando o coração ausente procura se comunicar com o coração que ficou. É nesse momento que o homem precisa encontrar forças e sabedoria para entender que acima de suas vontades e de seus desejos mais sinceros e mais profundos estão as decisões do mesmo Criador que num sopro concedeu a vida a cada um de seus filhos.

E no mundo tão cheio de mudanças, há uma coisa que nunca haverá de mudar: o amor que sentimos pela pessoa que nos transformou em par, e por isso mesmo é única e especial. Quando pessoas assim são chamadas prematuramente para fazer companhia a Ele, se delas ainda fosse possível escutar uma derradeira frase, seguramente ela pediria licença ao Criador, tomaria nas mãos o rosto sofrido de cada um em quem deixou plantada a saudade tão pranteada e diria num sussurro: desculpe, Ele me chamou! 

A. Capibaribe Neto

Nenhum comentário:

Postar um comentário