Acredite quem quiser


No último dia de 2012, José Sarney não perdeu a mania de moldar o futuro de acordo com suas conveniências do presente, esquecendo o passado sempre que necessário. Declarou, em entrevista à Folha de S. Paulo, que os ex-presidentes da República, uma vez cumpridos seus mandatos, deveriam ser proibidos de candidatar-se a quaisquer outros cargos eletivos. Ficariam, no máximo, à disposição do país para missões extra-rotineiras, sempre que acionados. Claro que com  o poder público  garantindo-lhes condições para exercer a singular profissão de ex-presidentes, com pensão, escritório, viagens e segurança permanente.

Nos Estados Unidos é assim, mas no Brasil de José Sarney não foi. Por temer incerta perseguição  do sucessor ou por incapacidade de permanecer ao sol e ao sereno, desde que  deixou o poder  vem se elegendo senador.  Como ficou difícil no  Maranhão, manobrou para tornar-se representante do Amapá, onde nunca havia estado e não está, exceção do mês anterior às  campanhas  eleitorais. Tivesse aplicado na prática sua atual teoria e o Senado não aproveitaria sua experiência por tantos anos, desde 1990.
                                                       
O ex-presidente também se disse  adversário das  medidas provisórias, primeiro a utiliza-las a partir da Constituição de  1988: “sem elas seria impossível governar,  mas com elas a democracia jamais se aprofundará e as instituições jamais se consolidarão”. Foi graças à sua inflexibilidade que o parlamentarismo deixou de ser implantado pelos constituintes,  mas agora atribui ao presidencialismo do qual não abriu mão a maioria dos males nacionais.
                                                      
Por essas e outras vamos deixar na geladeira a decisão por ele anunciada, de não se candidatar outra vez em 2014. Quem quiser que acredite...
por Carlos Chagas