Maurício Savarese: minissaias, decotes e transparências


O vestuário feminino ousado não sai de moda no Reino Unido. Perto do zero grau de dezembro ou dos mais de 30 graus das Olimpíadas, a única diferença é saber se devem ou não usar uma pesada meia-calça cor de pele contra o frio. São micromicrossaias, blusas transparentes que às vezes só escondem os mamilos e enormes decotes. Não chega a ser lindo de se ver, mas não faz mal a ninguém.
Achei que fosse algo das meninas mais rebeldes, que afirmam assim sua sexualidade e sua liberdade. Ou um desafio a uma sociedade machista, ainda que menos do que a nossa. Ou para dizer às francesas, italianas e espanholas que, sim, as inglesas podem.
Caiu tudo por terra quando vi uma colega não muito bonita, megacatólica e pudica, usando um vestido que mostrava metade dos seus seios.
Não era por rebeldia ou para mostrar que tinha o que exibir. Apenas era. “Não entendi o que tem de errado com a minha roupa para minha mãe dizer que não ficou bem”, disse ela. Amigas também não entenderam. Seria um caso isolado.
Mas neste fim de semana, andando pela área dos artistas de rua, vi outras com perfil semelhante -- pouco atraentes, intelectualizadas, mas sem ar de irritação com o mundo. Seminuas.

Pergunto aos colegas porque têm fetiches com mulheres brasileiras, sendo que as daqui são ainda mais ousadas na forma de se vestirem. “Mas e os biquinis minusculos que usam no Rio?”, me devolve um deles. Respondo que ninguém usa traje de banho na cidade, é um vestuário exclusivo de praia. E ele. “Mas uma inglesa nunca vestiria algo tão provocante quanto aquilo.” Não entendi.
Outro colega me diz que dificilmente os britânicos 'cantam' qualquer garota, menos ainda as que se vestem de forma ousada. “Algumas ficam incríveis, mas sempre temos receio de olhar demais ou parecermos indelicados. Serve para termos um motivo para começar uma conversa. Mas nunca vi uma moça passar a noite com alguém só porque usava roupas provocantes em uma festa.” Algumas ganham uns gracejos nas ruas, mas não passa disso.
Muitas feministas britânicas -- as contrárias à liberdade total no vestuário -- detestam o que estrangeiras chamam de “moda puta britânica”. Acham vulgar, e não raro têm razão.
Em seis meses de Londres, quase todas as vezes só pude me interessar pelo fenômeno de forma antropológica. Mas quando alguém me fala da ousadia das moças brasileiras, ah, eu já tenho um microargumento na manga.

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