Carlos Chagas: a mesma rotina de sempre


Repete-se o mesmo do mesmo, quer dizer,  sucedem-se homéricos  temporais, morre gente, encostas desabam, casas desaparecem, rios transbordam  e as autoridades prometem que ano que vem será diferente, pois as providências estão sendo tomadas. Em paralelo, a imagem de vacas mortas de sede e de camponeses lamentando a seca não precisaria ser buscada pelas redes de televisão: em seus arquivos existem milhares delas, que o telespectador comum tomaria como atuais.
                                                        
Para os cariocas, virou rotina a mortandade de peixes na lagoa Rodrigo de Freitas. Fala-se da falta de oxigênio  na água, do entupimento  do canal de ligação com o mar e da poluição, mas iniciativas de verdade  para enfrentar essas possíveis causas, nem pensar. Que venha o mau cheiro.
                                                        
No Congresso, desde 1988, renovam-se as  rodadas de boas  intenções para a aprovação da reforma política: financiamento público das campanhas, redução do número de partidos, voto distrital, criação do voto facultativo e fim dos suplentes de senador, entre outras necessidades, mas aprová-las, que é bom, nada feito. Deputados e senadores jamais irão estabelecer mudanças capazes de prejudicá-los.
                                                        
Faz tempo que entidades e grupos ligados aos direitos humanos levantam cíclicas  suposições de terem sido assassinados num espaço de poucos meses, em 1976,  os três principais líderes políticos civis revelados no período anterior ao golpe de 31 de março, Juscelino Kubitschek, João Goulart e Carlos Lacerda.  Seria o preço da abertura política concedida pelos militares, de forma a não sofrerem derrotas contundentes. O diabo é ficar sempre para depois  a apuração profunda dos três episódios. 

                                                        
Uma vez por ano o Flamengo muda de técnico, sempre que o time dá vexames como o mais recente, da derrota para um time de Resende. O novo comandante, desta vez o Jorginho, promete mudar a forma de marcação no meio  campo, mas tudo continua como antes, enquanto se eterniza a prática dos cartolas rubro-negros  de não adquirir craques de renome.
                                                        
A cada surto de crescimento, aliás, mais no reino da propaganda do que na realidade, sempre sobrevém a sombra da inflação, de forma a obrigar a equipe econômica a desdizer-se, exigir mais sacrifício e aumentar impostos,   quaisquer que sejam os ministros da Fazenda.
                                                        
Cada leitor encontrará mil outros exemplos de que tudo continua como antes, em sua vida privada e nos setores político, econômico, esportivo e ambiental. Dizem os otimistas que melhor assim. Pelo menos o Brasil não entrou em guerra, terremotos não aconteceram e Paulo Maluf não virou presidente da República.

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