O próximo passo é do tempo


Deixei de lado a ansiedade de esperar até por um simples "oi", ao qual dei muita importância esperando por ele nem que fosse tudo no assunto e nas mensagens curtas que custavam muito a chegar. Isso já era um passo. Depois, consegui ficar quieto e prestar mais atenção ao silêncio à minha volta. 

Descobrir sabedoria na ausência dos sons é uma tarefa difícil, mas não impossível. Foi o segundo passo. É lentamente que uma rotina vai ficando ruim e tão devagar vamos nos acostumando ao ponto de ela se transformar em algo insuportável e de tão habituado que estamos nem nos damos conta. 

E aí, um dia, quando ela chega ao fim e de repente o chão some debaixo dos pés, estabelece-se o desespero do rompimento e o encontro com o vazio. No vácuo nem o som se propaga. A sensação do absolutamente nada é simplesmente aterradora. Descobrir que as boas lembranças couberam numa pequena e que a rotina era apenas uma roupa de mau gosto à qual nos acostumamos a vestir todos os dias, e por muitos anos havia chegado a hora de despi-la, foi a terceira lição. 

Mas de tanto repeti-la havia se transformado numa espécie de segunda pele. Era imperativo arrancá-la da minha pele verdadeira para renascer diferente. Foi o quarto passo, desde o primeiro, o do deixar de esperar pelo "oi" que deixou de fazer sentido. Mas faltava o resto e esse resto, que é o que encontramos logo depois, não dava mais medo. Descobrir que ainda tinha forças e coragem foi o quinto e eu já havia percorrido uma longa distância, dobrado muitas esquinas, escalado uma montanha gelada e não sentia mais frio.

A solidão, na verdade, nunca me pesou e até encontrei um lugar para deixar lá a tristeza, com todo o respeito por cada tempo bom que valeu à pena, bem antes da rotina. Em algum momento na vida é preciso desistir de uma rotina quando se descobre que o coração não está apenas batendo devagar, na verdade ele está é parado e não há mais jeito de ressuscitá-lo. Deixar de sentir vergonha por haver escondido o rosto no travesseiro tantas vezes para abafar um choro infantil, foi mais um passo.

Homens de verdade choram, sim, de dor de verdade e principalmente quando a dor é de amor. Ter sobrevivido, estar ali, naquele fim de mundo, aparentemente inteiro e aceitar que eu sozinho era tudo o que havia sobrado nós dois, deixou de ser impossível, até o fim daquilo que nos havia sido prometido ser para sempre e achamos ser impossível de substituir e voltar a acreditar em novas promessas. Outro passo foi aceitar que eu passara a ser um ontem qualquer e que já se havia passado tempo demais... 

Todo hoje passa muito depressa e o amanhã, quando se espera com ansiedade, custa muito a passar. Parece não chegar nunca. Se existe uma coisa chamada destino, ele já havia decidido, desde o começo, que nunca estaríamos juntos. A insistência foi uma forma irresponsável de desafiar o que estava escrito nas estrelas. Sonhos impossíveis só cabem mesmo dentro de sonhos e para viver a realidade nua e crua é preciso acordar e pôr os pés no chão. 

Acabar com a dieta de só comer o pão que o diabo havia amassado especialmente para mim foi mais um passo importante. E até parece, logo eu, que não acredito em Satanás ou no seu oposto, a bem da verdade! Tenho todo o direito de não acreditar em muita coisa sem precisar prestar contas a ninguém. Meus esforços deveriam, isso sim, terem se concentrado em me desfazer do que essas sensações ruins significavam. 

Mais nada! Como alguém pode sofrer pelo que não existe mais, por alguém que nunca mais vai voltar? A tradução de adeus é muito simples: significa apenas adeus, uma despedida definitiva! Depois de resistir à impaciência do coração e ter conseguido sobreviver, agora só faltava esquecer e disso o tempo iria sabiamente cuidar. Como sempre cuidou. 

by A. Capibaribe Neto

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