No virtual, o privatismo. Na vida real, o Estado paga

A cantilena sobre a excelência e as maravilhas da livre iniciativa são uma espécie de “pauta” do pensamento econômico da qual virou “pecado”, faz tempo, discordar.
Não há um que deixe de falar sobre o papel vital do agronegócio, da construção civil e das obras de infraestrutura – para aliviar o “custo Brasil” – em nosso país.
Qualquer beabá de economia sabe que, para os três setores, crédito é vital, pela lenta velocidade de retorno.
Um trator não se paga em uma colheita, uma casa não se paga em um ano e uma ponte não dá retorno econômico senão em muito tempo de acúmulo de benefícios de mobilidade e logística.
Então, cadê o dinheiro para investir?

Ora, claro: o bom, velho e “ineficiente” Estado, através dos bancos públicos, é lógico.
Ontem, o Banco Central anunciou que os bancos públicos vão terminar o ano respondendo por mais da metade dos empréstimos no País:  50,6% do total, contra, no ano passado, 44,7%
Nestes três setores,  pela grande maioria e, no caso da infraestrutura, por quase todo ele.
Essa participação, que hoje passa da metade, dobrou em relação ao final do governo Fernando Henrique, quando chegou a ser de menos de 25%.
Ah, mas “os bancos privados não emprestam porque, ao contrário do Governo, não podem emprestar se as pessoas e empresas não pagam e a inadimplência é alta”,não é?
Então vamos ao que divulgou ontem o BC:
“A inadimplência do crédito do sistema financeiro ficou estável tanto para empresas (2,3%) quanto para as famílias (5,3%). Pela metodologia do BC, atrasos superiores a 90 dias são considerados inadimplência”.
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A verdade é que os bancos privados emprestam pouco e caro porque têm como auferir lucros – e imensos – com outras operações, como derivativos cambiais, dívida pública, spreads altíssimos.
Saúde financeira, lucratividade todos eles têm, e muita, como você pode ver na tabela aí do lado.
Inclusive os bancos públicos, mas a medida em que passaram a emprestar mais, com menos juros.
Mas isso parece ser uma coisa inadmissível para o privatismo brasileiro.
Nada de ganhar muito vendendo muito, se é possível ganhar muito vendendo pouco, não é?
E mandar o governo gastar pouco e pagar muito juro.
Que a obrigação da vaca é dar leite.

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