A máfia do jaleco branco perdeu a guerra

Nas últimas semanas, luminares da medicina brasileira e associações da classe entregaram-se a uma guerra encarniçada contra a vinda de médicos estrangeiros para o mercado nacional. O resultado do embate ainda não foi proclamado. Mas a corporação do jaleco branco perdeu a guerra.
O governo importa médicos para enviá-los aos fundões pobres do Brasil, onde os similares nacionais não chegam. Os luminares e as associações alegam que a mão de obra brasileira não vai ao interior por falta de estrutura. Em duas reportagens, o SBT demoliu o argumento.
Numa notícia, disponível no vídeo lá do alto, médicos da maternidade pública Leonor Mendes de Barros, na zona leste de São Paulo, são pilhados marcando o ponto diariamente e batendo em retirada na sequência. Noutra, reproduzida lá no rodapé, o fenômeno se repete num hospital público do interior do Rio de Janeiro.
A plateia não viu luminares da medicina nem representantes de suas associações manifestando-se sobre esses casos. Suspeita-se que, se forem ouvidos, os pacientes dos estabelecimentos hospitalares vitimados pela esperteza médica não se importarão de receber alguma assistência de médicos cubanos.
Dilma Rousseff sabe que os médicos estrangeiros não resolverão o problema da saúde. Importa-os porque a marquetagem aconselha. A explicação para os movimentos da presidente não está nos postos de saúde, mas nos números do Datafolha. Aumentou a aprovação à contratação dos médicos estrangeiros, informou o instituto há duas semanas.
A maioria dos brasileiros (54%) se declarou favorável à decisão de trazer médicos do estrangeiro para atuar nas cidades em que os brasileiros não desejam clinicar. Juntando-se num mesmo caldeirão os dados do Datafolha, os vídeos do SBT e o veneno da cubanofobia, chega-se à mistura que deu aos opositores do programa Mais Médicos uma aparência de maus médicos.
Vaiado por colegas brasileiros há dois dias, em Fortaleza, o médico cubano Juan Delgado (foto) iluminou a falta de nexo do protesto. “Vamos ocupar lugares onde eles não vão. Me impressionou a manifestação. Diziam que somos escravos, que fôssemos embora do Brasil. Não sei por que diziam isso, não vamos tirar seus postos de trabalho.”

Vale a pena ouvir um pouco mais do doutor Juan: “Isso não é certo, não somos escravos. Seremos escravos da saúde, dos pacientes doentes, de quem estaremos ao lado todo o tempo necessário. Os médicos brasileiros deveriam fazer o mesmo que nós: ir aos lugares mais pobres prestar assistência.” Bingo.
Se Deus tiver de aparecer para um doente em desespero, não se atreverá a aparecer em outra forma que não seja a de um médico. Para quem está estirado na maca não importa a origem da aparição. Português, espanhol, cubano ou marciano, o médico que se debruçar sobre o paciente será saudado: ‘Deus seja louvado!’.
Josias de Souza

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