O senhor está com a tarefa de realizar em 90 dias o que a Câmara não fez em 20 anos...
Eu estou otimista, acho a missão possível não por qualidades pessoais minhas, mas porque o Brasil mudou e as mobilizações mostraram uma insatisfação com os políticos e a política.
Essa reforma vai ser no sentido de facilitar a renovação política?
O sistema eleitoral brasileiro permite e promove a renovação. Em todas as eleições, com ou sem crise social, há uma renovação significativa nas bancadas. Meu medo é outro: as pessoas caírem na demagogia e criarem mitos sem muita consistência, e nós fazermos mudanças não necessariamente para o atendimento de transparência e participação.
O senhor acha que a demanda das ruas foi bem respondida ou a presidente Dilma errou no cálculo?
Eu apoio a presidente Dilma, ela transmitiu certo a vontade das ruas, as pessoas querem mudança já. Sou a favor de plebiscito. O problema é que ele não faz a reforma. É uma pergunta pontual de sim ou não, não é a elaboração de uma lei. E o rito dificulta a aprovação: tem que ter 171 assinaturas de deputados, tramitar na comissão, no plenário e depois no Senado…
Não pegou mal o senhor ter declarado que as regras aprovadas pelo grupo passariam por referendo e não valeriam para 2014 quando a presidente Dilma disse que o plebiscito era imprescindível?
Eu também queria que valesse para hoje, não tem divergência. Mas como? O problema é que existe um arcabouço jurídico que a gente não pode quebrar. Não existe tempo hábil nas regras para fazer plebiscito e valer para o ano que vem, mas eu sou a favor e vou ajudar a coletar as assinaturas. De qualquer forma, o parlamento vai tomar medidas que vão valer em 2014. Só não quero criar uma expectativa muito grande de que em agosto estaria pronto, porque seria a véspera do fracasso, a forma de não dar certo. Mas algumas ideias podem valer para agora.
A votação das propostas sobre a reforma será então fatiada?
O caminho para dar errado é um pacote para enfiar goela abaixo. Alguns temas, quando chegarem à Câmara, como o projeto que facilita propostas de iniciativa popular, vou sugerir que coloquemos logo para votar.
O PMDB tem defendido o mandato de cinco anos e o fim da reeleição e diz que esses temas são consensuais e poderiam ser votados logo, o senhor concorda?
Quero ouvir todos os partidos, não vamos partir de ideias prontas. Reeleição acho que a maioria é a favor, mas o PT talvez não tenha posição definida. Eu tenho minha posição, mas não quero adiantar, porque estou conduzindo um grupo muito heterogêneo e tenho que ter seis ouvidos e uma boca, prefiro falar muito sobre método e pouco sobre o conteúdo da reforma. O que eu acho mais consensual é que tem que mexer na forma de financiamento das campanhas, é um ponto que temos que atacar.
Quando o senhor foi indicado para comandar o grupo, houve uma situação constrangedora com o Henrique Fontana, que queria o posto.
Em todos os grupos de trabalho da Casa o coordenador foi indicado pelo presidente. Isso não foi o Vaccarezza que inventou e nem houve articulação. Eu acho que fui injustiçado nessa discussão, mesmo assim prefiro assimilar a injustiça do que atacar como fui atacado.
Alguns petistas têm dito abertamente que essa situação demonstrou que o senhor está mais ligado ao PMDB que ao próprio PT, o que o senhor tem a dizer?
Acho isso um acinte. Eu participei da fundação do partido, fui secretário-geral do PT, presidente da legenda de São Paulo, líder da bancada na Câmara dos Deputados e líder do governo na Casa. Dizer isso de mim, além de desconhecer o que acontece no PT, é o caminho do vale-tudo. Para mim, na política não vale tudo. Eu fico com pena de quem fala isso.
Fonte: Correio Braziliense
Luiz Carlos Azedo
Adriana Caitano
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