Carlos Castaneda um dia terá o reconhecimento que merece

Como se homenageia um escritor? Com seus textos, que refletem sua alma. Traduzi e editei nesta coluna alguns tópicos do pensamento de Carlos Castaneda em "Uma Estranha realidade" (A separate reality). O bruxo iaqui Don Juan conversa com o antropólogo:

Paulo Coelho

- Nada tem importância - disse o bruxo iaqui.

- Mas D. Juan, se nada tem importância, por que devo aprender a ver as coisas?

- Só depois de aprender a ver é que você poderá decidir se as coisas são importantes ou não. Você já é adulto o bastante para saber que um homem de conhecimento vive por seus atos, não por pensar nos atos, nem por pensar no que vai pensar depois de agir. Um homem de conhecimento escolhe o caminho do coração e o segue. Depois, olha o mundo a sua volta, fica contente e ri. Porque ele sabe que sua vida terminará muito depressa. Sabe, porque vê, que nada é mais importante do que qualquer outra coisa. Um homem de conhecimento não é fiel a nada, apenas à maneira que decidiu viver sua vida".

"Assim, o homem de conhecimento sabe que tudo é uma loucura, mas entende que, para continuar neste mundo, precisa manter esta loucura sob controle. Então, ele se esforça, transpira e bufa; quando se olha para ele, parece um homem comum, mas, na verdade, ele tem sua loucura controlada. Ele segue em direção ao conhecimento com medo, com respeito, sabendo que está indo a uma guerra".

- Como posso ser um guerreiro deste tipo?

- Agindo, e não falando. Usando o poder de sua vontade. A vontade é uma coisa que o homem usa, por exemplo, para vencer uma batalha que ele, por todos os cálculos, devia perder. É o que o faz vencer quando você já estava derrotado.

- Eu chamo isto de coragem.

- Não. Os homens de coragem vivem rodeados de pessoas que o admiram, mas muito poucos homens de coragem têm vontade. Porque a vontade é algo que desafia o nosso bom-senso. Um homem de vontade é um homem de poder.

- Posso dizer que sou um homem de vontade, quando me nego a fazer certas coisas?

- Não. Negar é uma indulgência. Faz-nos acreditar que estamos fazendo grandes coisas, quando na verdade estamos apenas fixados em nós mesmos. A vontade é um poder; como todo poder precisa ser controlada e afinada - e isso leva tempo.

- A vontade é o mesmo que ver?

- Não. A vontade é uma força, um poder. Ver não é uma força, mas uma maneira de se penetrar nas coisas. Um feiticeiro pode ter uma vontade muito forte, e jamais ter conseguido ver o mundo de maneira diferente.

- Como desenvolvo minha vontade?

- Já lhe disse que, quando você fala, só faz é confundir-se mais - disse ele, rindo. - Mas pelo menos, agora está consciente de que está esperando que a sua vontade se manifeste. Ainda não sabe como ela é, nem como vai chegar até você. Mas entenda uma coisa: aquilo que poderá ajudar a receber e desenvolver sua vontade está no meio das pequeninas coisas. Preste atenção a elas! 

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