Sempre que falo de poliamor e relacionamentos abertos, alguém pergunta:
Mas e os filhos? mas e se eu quiser constituir uma família?
Sinceramente, a escolha de ter ou não ter filhos e a escolha de viver ou não relações abertas e poliamorosas são duas esferas bem diferentes.
1. seus filhos não precisam saber
A decisão de viver relacionamentos abertos não influencia em nada os seus filhos porque, antes de tudo, quem disse que eles precisam saber qualquer coisa da sua vida amorosa e sexual?
Assim como os filhos em geral não sabem quando os pais transam um com o outro, eles também não precisam saber quando os pais vão transar com outras pessoas. ou, digamos, se os pais, na privacidade do seu quarto, praticam dominação e submissão e estão se chicoteando.
Assim como o papai e a mamãe muitas vezes saem com amigos, para passear, jantar ou viajar, também poderiam estar saindo com esses mesmos amigos para namorar ou transar e os filhos não teriam como saber e, aliás, não teriam nada a ver com isso.
Muitos e muitos casais vivem e viveram longas e frutíferas vidas poliamorosas, ao mesmo tempo em que criaram filhos, sempre cuidando tanto para suas relações amorosas e sexuais não interferissem na sua esfera familiar, mas também, e isso é muito importante, cuidando para que sua família não interferisse em suas relações amorosas e sexuais.
Afinal, papai e mamãe também precisam de privacidade para viver suas vidas de adultos sexuais
2. e daí se os seus filhos souberem?
As crianças vêm ao mundo livres de preconceitos e somos nós que enchemos suas cabeças de porcaria.
Quando os pais conservadores perguntam, apavorados, "mas, se homem puder casar com homem, como vou explicar isso para o meu filhinho?", o que os apavora é justamente sua incapacidade de transmitir aos seus filhos o seu próprio horror. para uma criança, que acabou de chegar no mundo, nada poderia ser mais simples e fácil de entender do que o fato de que o tio pedro é marido do tio joão, assim como o tio jaime é marido da tia renata.
Ou que o papai e mamãe se amam e constituíram família, mas que o papai também ama e namora a tia clarice, assim como mamãe também ama e namora o tio cláudio, que é muito legal e me leva no estádio de futebol no domingo, porque ele gosta, e mamãe gosta, mas papai odeia, então ele aproveita pra sair com a tia clarice no dia do futebol!
Se o parágrafo acima te parece horrível, doente, complexo, isso é apenas porque o lixo dos séculos está deformando seu cérebro.
As crianças querem paz, segurança, estabilidade, amor.
Nenhuma criança será mais feliz do que aquela criada por pais felizes, satisfeitos, amorosos entre si e com outras pessoas, em uma atmosfera de tranquilidade e carinho.
O que traumatiza as crianças não é saber que sua mamãe é capaz de amar de verdade duas pessoas diferentes, algo muito natural e sadio, mas sim gritaria, ciumeira, violência, acusações.
Muitos e muitos casais vivem e viveram longas e frutíferas vidas poliamorosas enquanto criavam filhos que sempre souberam disso e encararam com naturalidade o poliamor, filhos que foram criados e educados para terem a maturidade emocional de não se deixar levar pelo ciúme e pela possessividade. na verdade, em muitos casos, os companheiros dos pais acabaram criando também ligações profundas com os filhos, e formaram-se extensas redes familiares de relacionamentos.
* * *
Aviso para as pessoas que se sentiram atacadas pelo texto acima ("cada um é cada um, né, alex?")
Escrevo sobre estilos de vida alternativos não para convencer quem optou pela escolha da maioria mas para mostrar às pessoas insatisfeitas que a escolha da maioria é somente isso: uma ESCOLHA.
Essa conversa aqui é para pessoas insatisfeitas que estão buscando outras escolhas e refletindo sobre como operacionalizá-las.
Se você, por outro lado, está feliz com suas escolhas, então, fico sinceramente feliz por você. essa conversa então não é para você. o assunto não é você. não é de você que estamos falando. não queremos te convencer de nada.
Fica em paz. e, se as suas escolhas algum dia começarem a te oprimir, você sabe onde estamos. sinta-se sempre livre para juntar-se a nós.
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