Por que tanto violência?

Recentemente, parei de assistir todas as séries que se centravam em morte, sangue, crimes, etc: csi, law & order, criminal minds, mentalist, etc etc. Chega de autópsias na minha vida.
violencia.
  • Tanta morte ensina alguma coisa?
  • Nos ajuda a sermos pessoas melhores?
  • Comove? 
  • Diverte?

Esquecendo por um instante o mundo onde já vivemos, o que pensaríamos de pessoas que acham divertido passar duas horas vendo um maníaco com máscara de hockey matando pessoas, uma atrás da outra? o que essa idéia de diversão nos diz sobre essa pessoa? você gostaria de ficar preso no elevador ou de dormir ao lado de alguém que se diverte com mortes em série? E, entretanto, fazemos isso todos os dias, não?
A sociedade tenta proteger ao máximo as crianças do sexo (um ato natural e lindo, mágico e necessário, a origem de toda a vida, algo que queremos que nossas crianças um dia pratiquem com prazer e responsabilidade), ao mesmo tempo em que as expõem a doses quase psicopatas de violência (algo que não queremos que jamais faça parte de suas vidas, nem como vítimas, nem como perpetradores).
Não faz muito tempo, os estados unidos quase surtaram coletivamente porque um seio (um seio, meu deus!) de janet jackson escapou para fora do sutiã e foi visto em cadeia nacional por milhões de crianças – que assistem em média cerca de duzentos mil homicídios antes de completar dezoito anos.

o escritor russo anton tchecov tinha como um de seus objetivos artísticos escrever uma peça sem precisar utilizar os truques tradicionais (morte, violência, etc) para avançar o enredo.
em a gaivota (1896), ele quase consegue, mas sente necessário incluir um suicídio perto do final.
em sua última e maior peça, o jardim das cerejeiras (1904), sem nenhum lance violento ou emocional, sem precisar utilizar de nenhum truque barato, tchecov constrói uma das obras mais dramáticas, instigantes e desesperadoras de todos os tempos.
as artes narrativas do século xx devem muito à tchecov e ao jardim das cerejeiras.
não por acaso, é meu autor preferido.
será que os dramas e emoções da vida cotidiana já não bastam?
será que precisamos de assassinatos e de morte para nos arrancar da apatia, para fazer com que nos importemos pelos personagens, para sentirmos emoção verdadeira?
aliás, será que tanta morte consegue arrancar de nós emoção verdadeira ou será que está somente nos tornando ainda mais apáticos e insensíveis?
tire a violência absolutamente gratuita da obra de tarantino e o que sobra de filmes como cães de aluguel e kill bill?
qual é a graça de sentar no cinema e ver a uma thurman (ou o charles bronson, ou o clint eastwood, ou o jason, ou um tubarão branco, ou o predador, ou um vírus apocalíptico, ou uma nova era de gelo, ou um navio afundando, etc) matando uma pessoa atrás da outra?
qual foi o último filme realmente bem-sucedido que não incluía nenhuma morte violenta, ou que não tinha alguma morte como ponto fundamental da trama?
qual foi o último filme que você viu que celebrava a vida, caralho?!
nota necessária para as pessoas que se sentem atacadas por textos.
não, não estou dizendo que obras violentas são ruins e horríveis, ou que VOCÊ, ó pessoa leitora, é feia, chata e boba por consumir essas obras. estou só dizendo que EU cansei delas.
e não, menos ainda, não estou defendendo que obras violentas sejam censuradas ou proibidas só porque EU cansei delas. a arte deve ser livre.
também não estou criticando a violência como tema artístico em si. ela é um tema tão válido quanto o amor, o trabalho, a doença, o destino, a morte. o que me espanta é predomínio do tema: nossa produção cultural parece viver praticamente só de violência.
aliás, sempre que critico alguma obsessão por x, me aparecem alguns praticantes de x se sentindo atacados, como se eu tivesse falado deles. é como eu fazer um post sobre pessoas com transtornos alimentares que comem compulsivamente e vir alguém reclamar:
"ei, seu idiota, como você ousa falar mal de quem come? eu como três vezes por dia e não tem nada de errado comigo! você tem é preconceito contra as pessoas que comem! você é feio e bobo!"

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