A Câmara dos Deputados protagonizou dois atos na noite de hoje (12.fev.2014). Primeiro, cassou o mandato de Natan Donadon. Ao mesmo tempo, provou que ali dentro estão 280 deputados covardes e pusilânimes.
Infelizmente, jamais saberemos quem são eles.
Em agosto do ano passado, com votação secreta, 131 deputados votaram contra a cassação de Donadon. Outros 41 se abstiveram na ocasião. Havia 4 em obstrução e 104 estavam ausentes. Total dos que ajudaram a Donadon ser um deputado presidiário desde junho até hoje: 280.
Agora, tudo mudou. Com o voto aberto, os defensores do deputado presidiário votaram para cassá-lo. Participaram da votação 468 deputados e 467 foram a favor da perda de mandato de Donadon.
Nenhum deputado votou a favor. O deputado Asdrúbal Bentes (PMDB-PA) se absteve –o que, na prática, significa que estava a favor de Donadon. Talvez Bentes tenha sido o único coerente ali dentro entre os que são a favor de ter um réu condenado dentro do Congresso.
É claro que a Câmara tomou a decisão correta hoje ao cassar o mandato de um deputado que foi condenado em definitivo pelo Supremo Tribunal Federal e cumpria pena na penitenciária da Papuda, em Brasília. Mas os políticos protagonizaram também uma cena triste: demonstraram que muitos ali adoram esconder o que pensam e são tomados de um forte espírito de corpo quando estão em condição de enganar aos seus eleitores.
Só alguns gatos pingados admitiram em agosto passado ter votado a favor de Donadon. Como hoje houve quase unanimidade contra o deputado presidiário, nota-se que mais da metade da Câmara mentiu meses atrás.
Algum dia o Congresso vai melhorar sua imagem. Mas esse dia parece que ainda está longe no horizonte, o que é péssimo para a democracia.
O único fato positivo da sessão de hoje (cassar Donadon foi só uma obrigação com anos de atraso) foi o fato de o voto aberto ter entrado para valer em vigor quando se trata de cassar mandatos.