A crise ucraniana escancarou e radicalizou um conflito, de caráter geopolítico, que já vinha se delineando no mundo todo desde que os EUA começaram a colocar em prática o chamado PNAC (Projeto para um novo Século Americano) que visa manter os EUA como sendo a única superpotência mundial durante todo o século XXI, além de impedir que qualquer outro país possa vir a se fortalecer de maneira que venha, algum dia, ter alguma chance de ameaçar a hegemonia global dos EUA.
Foi devido a essa política que os EUA começaram a promover guerras, golpes de estado e processos de desestabilização contra inúmeros governos de países que não se submetiam à sua vontade imperial, tal como fizeram no Afeganistão, Iraque, Líbia, China, Venezuela, Ucrânia, entre muitos outros.
A China se aliou totalmente à Russia na questão ucraniana e o seu governo, agora, está dizendo claramente que poderá vir a cobrar a gigantesca dívida, de cerca de US$ 1,4 trilhão, que os EUA possuem com os chineses.
E a China ameaça exigir o pagamento da dívida que os EUA possuem com ela, de cerca de US$ 1,4 trilhão, entregando ouro para fazer tal pagamento.
Mas acontece que os EUA não tem ouro suficiente para pagar tal dívida, e nem dólares, e teriam que dar calote nos chineses.
Com isso, a atitude chinesa deixaria explícito aquilo que o mundo inteiro sabe, mas que se recusa a admitir, ou seja, que os EUA não tem como pagar a gigantesca dívida que acumulou com os outros países nas últimas décadas.
Com os EUA dando o calote no seu maior credor externo (o Estado chinês), a credibilidade do Estado ianque iria para a lata de lixo e ficaria muito mais caro para o governo do país financiar seus gastos gigantescos com guerras, gastos militares (que representam 50% do total mundial, chegando a US$ 1,5 trilhão anuais), bem como o seu consumismo desenfreado e irracional.
Nesta nova situação, os credores dos EUA poderiam se recusar a fazer novos empréstimos enquanto o governo do país não pagasse as dívidas existentes ou, no mínimo (o que seria o mais provável), exigiria taxas de juros bem maiores para continuar financiando o Império Ianque.
Em qualquer uma das situações, teríamos um agravamento da situação econômica, financeira e social dos EUA, piorando ainda mais a crise que se arrasta desde 2007-2008 e que está longe de ser superada, pois uma parcela muito maior do orçamento público dos EUA passaria a ser usado para pagar as dívidas acumuladas.
Além disso, não se pode esquecer que a dívida externa bruta total dos EUA é de US$ 16 trilhões, o que equivale 100% do PIB do seu PIB. Então, qualquer aumento no custo do financiamento da mesma terá um impacto significativo na economia ianque e sobre as condições de vida do povo americano.
E boa parte desta dívida externa dos EUA está em poder de governos de outros países, que compraram grande quantidade de dólares e de títulos públicos dos EUA nas últimas décadas.
E o país cujo governo possui a maior parcela desta dívida externa ianque é justamente a China. E a Rússia também está na lista de grandes credores dos EUA, bem como o Brasil e a Índia, que criaram os BRICS, junto com Rússia e China.
Assim, a crise ucraniana mostra que Rússia e China se aliaram de maneira a conter a agressividade do Império Ianque, que perdeu completamente a razão e decidiu que nenhum país do mundo poderá agir mais de forma soberana e independente, mesmo que seja uma potência nuclear com a capacidade de destruir os EUA em, no máximo, uns 15 minutos, como é o caso da Rússia.
Então, numa situação dessas, fica claro que se nem a Rússia, uma potência nuclear, tem mais segurança para viver de forma independente e soberana, que outro país do planeta poderá desfrutar dessa independência e soberania? Nenhum, é claro.
Além da ameaça chinesa de cobrar a dívida dos EUA, o governo da Rússia também ameaçou despejar centenas de bilhões de dólares no mercado mundial, derrubando a cotação do dólar e agravando a crise econômica nos EUA. E como a Rússia, que possui US$ 457 bilhões, é um dos maiores credores dos EUA (possuindo cerca de US$ 200 bilhões em títulos públicos dos EUA), essa ameaça não pode ser ignorada pelo governo Obama.
Um dos conselheiros do Presidente Vladimir Putin, Sergei Glazyev, declarou o seguinte: "Temos uma boa quantidade de títulos do Tesouro dos EUA - mais de $ 200 bilhões - e se os Estados Unidos se atrevem a congelar as contas de empresas cidadãos russos, então não podemos mais ver os Estados Unidos como um parceiro confiável" .
Ele também disse o seguinte: "Vamos incentivar todos para despejar os títulos do Tesouro dos EUA, se livrar de dólares como moeda confiável e deixar o mercado dos EUA.".
É bom que fique claro uma coisa: Já há muitos anos que os EUA não conseguem mais financiar o seu consumismo desenfreado, as suas guerras infinitas e os seus gigantescos gastos militares com os seus próprios recursos.
Desde o governo Reagan (1981-1989) que tudo isso está sendo financiado pelo mundo todo, cujos governos e investidores (empresas e pessoas físicas) passaram a comprar quantidades crescentes de dólares e de títulos públicos do governo dos EUA.
Assim, se existe algo que pode fazer com que o Império Ianque desmorone é justamente isso, ou seja, que o governo dos EUA não consiga mais recursos externos suficientes, mundo afora, para financiar suas guerras infinitas, gastos militares o consumismo de sua população.
Sem este financiamento externo, o Império Ianque irá desmoronar, pois o país terá que fazer tudo isso apenas usando dos seus próprios recursos e isso será inviável. A outra alternativa será continuar financiando tais políticas mas pagando muito mais caro pelos empréstimos que faz pelo mundo afora, o que também irá encarecer fortemente o custo destas políticas.
E daí os EUA poderão se ver frente a um dilema, que é o seguinte: Afinal, o que é mais importante para o país e o seu povo: manter o Império Global Ianque intacto, mesmo com o risco de, até, desencadear uma guerra nuclear, ou abandonar essa política agressiva e imperialista, procurando preservar o elevado padrão de vida que grande parte do povo americano ainda desfruta.
Esse dilema é muito parecido com o que o então Império Britânico enfrentou ao final da Segunda Guerra Mundial, quando ficou claro que o mesmo estava financeiramente quebrado e que a Grã-Bretanha não tinha mais como manter um Império tão vasto ('onde o Sol nunca se punha', como se dizia) e aceitou iniciar um processo de descolonização tanto na África, como na Ásia.
Os britânicos fizeram isso justamente porque o custo de manutenção deste Império tinha se tornado gigantesco demais. E isso aconteceu porque a economia britânica e sua moeda (a Libra) tinham perdido espaço no mundo nas décadas anteriores, desde o final do século XIX, na verdade, e isso inviabilizava a manutenção do Império, por mais que isso desagradasse Winston Churchill.
Os EUA, mais cedo ou mais tarde, terão que cair na real e aceitar que o mundo mudou e novas potências e países ganharam força militar e riqueza nas últimas décadas. E querer que estas nações abram mão de sua soberania e independência, bem como deixem de procurar se desenvolver, a fim de oferecer melhores condições de vida para os seus povos, é um absurdo total. Se os EUA pensam que isso irá acontecer e que todos os países e povos do mundo irão se submeter à sua vontade imperial, então eles enlouqueceram de uma vez por todas.
Assim, estes dois fatos que analisei aqui demonstram claramente que a China e a Rússia se uniram com o objetivo de barrar a política agressiva e imperialista, colocando claros limites às ações insanas e desprovidas de racionalidade do Império Ianque.
E o mais incrível é que estas duas potências irão fazer isso sem disparar um único tiro.
Se prepara, Império Ianque, porque o dia do acerto de contas com a sua arrogância e ganância ilimitadas irá chegar, estando cada vez mais próximo.
Viva a China! Viva a Rússia!
Marcos Doniseti
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