O xadrez eleitoral e o dilema de Dilma
Editorial do Brasil de Fato
A eleição para a Presidência da República do Brasil em 2014 aos poucos vai ganhando contornos de uma disputa acirrada e decisiva. Acirrada porque as forças neoliberais jogam todas as suas fichas na derrota da presidenta Dilma e, por isso mesmo, nesse momento, fazem uma forte ofensiva contra a imagem do governo federal ao pautarem a CPI da Petrobras. E, decisiva, porque o resultado das eleições presidenciais influenciará diretamente na correlação de forças na América Latina.
O neodesenvolvimentismo vigente nos governos Lula e Dilma não politizou e nem inseriu suas conquistas socioeconômicas em torno de um projeto político vinculado à necessidade de organização de uma base social de massas. Melhorar a vida do povo evitando ao máximo o conflito de classes, nisso consiste o caráter ideologicamente conservador do neodesenvolvimentismo. Não é para menos. Hegemonizada pela burguesia interna e institucionalmente pelo PMDB e aliados, a frente neodesenvolvimentista tem como base um sistema político carcomido, avesso às reformas estruturais pendentes na sociedade brasileira.
O fato é que os governos Lula e Dilma ao não demarcarem suas conquistas dentro de um projeto político com conteúdo ideológico de esquerda, abriram espaço para que as candidaturas oposicionistas disputem com relativa facilidade parte do eleitorado beneficiado com as políticas neodesenvolvimentistas. Mais do que isso. O neodesenvolvimentismo colocou novos personagens na cena política brasileira. Trata-se da recomposição da classe trabalhadora e de uma nova geração de jovens que emergiu nos últimos anos.
A presidenta Dilma e sua candidatura devem priorizar responder às demandas destas forças sociais reoxigenadas que colocam e atualizam demandas históricas da classe trabalhadora. Novas forças sociais que certamente têm o potencial de recolocar na agenda da sociedade brasileira as reformas estruturais pendentes.
Não existe vácuo na política. Se a candidatura da presidenta Dilma e seu programa de governo não conseguirem abrir um canal de diálogo com estas forças sociais renovadas, as candidaturas oposicionistas poderão canalizar eleitoralmente, mesmo que na base da retórica, o desejo de aprofundamento das mudanças latente na sociedade brasileira.
A tragédia disso tudo é a pobreza de ideias nesse momento que precede as eleições presidenciais. O pré-candidato do PSDB, o tucano Aécio Neves e seu cabo eleitoral, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, propõem uma agenda regressiva, neoliberal, para o Brasil com o tal choque de gestão, independência do Banco Central e privatizações. Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (REDE) até o momento estão presos na retórica de que é preciso pensar o Brasil, debater programa, mas de concreto não apresentaram nada. Já a presidenta Dilma encontra-se num dilema. O aprofundamento das mudanças requer medidas estruturais no campo da economia, da distribuição de renda, da democratização da propriedade da terra etc., que certamente entram em rota de colisão com interesses de classes de seus aliados conservadores que giram em torno do PMDB.
Mesmo assim, a tendência é que estas eleições sejam mais politizadas e polarizadas. Não por causa dos candidatos que, sem dúvida, têm preferência pelo marketing eleitoral, mas devido à convergência de dois elementos: novos fatos e iniciativas políticas ocorrerão até outubro e por causa do desejo de aprofundamento das mudanças, latente na sociedade brasileira.
Nesse sentido, recompor a força da esquerda brasileira e canalizar o potencial organizativo da jovem classe trabalhadora e desta nova geração de jovens que saiu às ruas em junho, são tarefas prioritárias para os próximos meses. E o ponto de partida para isso é buscarmos pautar as eleições na perspectiva de combinarmos a luta de massas com a luta pela constituinte do sistema político.