A hipocrisia tem pernas curtas: depois de recorrer ao STF, oposição recusa-se a participar das investigações que vão apurar denúncias de irregularidades na maior empresa estatal brasileira Após pormenorizar todo o trajeto que a proposta da CPI da Petrobras percorreu no Senado, deixando claro que os partidos da oposição tiveram tempo mais do que suficiente, e também para evitar que esses mesmos partidos apresentassem queixas de parcialidade, e que foram cumpridos todos os prazos regimentais, o presidente do Senado, Renan Calheiros, na tarde desta terça-feira (13) indicou os nomes que as bancadas do PSDB, do DEM haviam se recusado a fazer para integrar a CPI da Petrobras. Foram escolhidos Cyro Miranda e Lúcia Vânia, ambos do PSDB, e Wylder Morais, do DEM – todos do estado de Goiás. |
As indicações incomodaram. Os mesmos senadores que fizeram barulho na grande imprensa amiga quando bateram às portas do STF, reagiram indignados contra o “desrespeito ao estado de Goiás” que estaria expresso na escolha dos nomes. Uníssonos, cumpriram o comando do líder do PSDB, senador Aloysio Nunes Ferreira (SP), com uma única resposta: “Não gastaremos nenhuma energia com essa CPI”.
São tortuosos os caminhos da hipocrisia. Mas, na política, eles não tardam a aparecer com clareza. Ao longo de todo o mês de abril, os tucanos e o DEM praticamente paralisaram os trabalhos do Senado alardeando a necessidade de criação de uma CPI
para investigar a Petrobras. O discurso monotemático era sacado em meio a qualquer debate, para que a imprensa amiga tivesse justificativa para os espaços dos jornais do dia seguinte. Nesse período, é bom lembrar, o PT não criou nenhum obstáculo para impedir a investigação, limitando-se a denunciar seu caráter eleitoreiro, do qual surge até mesmo a denúncia de que as investigações facilitarão o achaque contra empresas contratadas pela Petrobras.
A oportunidade da CPI da Petrobras, para o PT, abriu a oportunidade para que, na mesma comissão de inquérito, fossem investigados outros dois casos concretos de corrupção – ambos, por coincidência, ausentes do noticiário diário: o do desvio de cerca de R$ 850 milhões em obras para os metrôs de São Paulo e do Distrito Federal e do prejuízo, ainda inestimado, do desvio de recursos de um projeto de sinal de wifi (comunicação sem fio) nos estados da Paraíba e de Pernambuco.
Mas a oposição insistiu e foi ao STF. A CPI da Petrobras deveria investigar tão somente a maior empresa estatal brasileira – o que foi alcançado pela decisão monocrática da ministra do STF, Rosa Weber.
O comportamento volúvel da oposição foi lamentado pelo líder do PT, senador Humberto Costa (PT-PE). “Me admira ver a oposição, que demonstrou tanta garra, tanto desejo de investigar, no momento em que as condições estão sendo dadas para a investigação ser feita, apressam-se em rejeitar a indicação, em comunicar que não farão parte [da CPI], mostrando, mais uma vez, que não há uma intenção efetiva de investigar”. Para Humberto, ficou patente que, desde sempre, o que havia era o desejo de transformar a CPI no palco de uma disputa político-eleitoral.
O líder destacou que a CPI da Petrobras já poderia estar funcionando, não fosse a recusa de DEM e PSDB de indicar seus representantes na comissão — o que levou o presidente do Senado a indicar os nomes dos senadores Vania, Miranda e Morais. Humberto também ponderou que, com as indicações, a CPI poderia ser instalada até mesmo nesta quarta-feira (14). “Se há interesse efetivo da oposição de fazer essa investigação, nós poderemos começar isso amanhã. Por que esperarmos para depois do dia 20, ou até o final do mês para termos uma CPI mista?”, questionou.
Os oposicionistas não conseguiram explicar a mudança de posição e a expressa deliberação de enterrar uma CPI que tanto lutaram para criar. O tucano Álvaro Dias (PR) chegou a pregar que “uma dose maior de sinceridade ficaria bem ao Parlamento”, mas a fala foi alarme falso, pois logo em seguida ele emendou a mesma arenga sobre a necessidade de investigar as graves denúncias contra a Petrobras”, só que agora não mais no Senado, mas no Congresso, que só volta a se reunir no dia 20 de maio. Com o calendário legislativo premido pela Copa do Mundo e as eleições, pode ser tarde demais para garantir o pleno funcionamento da comissão.
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