"Volume morto" vira manchete no Jornal Nacional, mas o tucanos Geraldo Alckmin é poupado pela emissora - Surpresa?... Nenhuma!
por Rodrigo Vianna
O “racionamento” de água entrou em pauta no JN da Globo. Entrou pela voz de Willian Bonner, que nesta segunda-feira avisou, com aquele tom que lembra os noticiários da Globo nos velhos tempos dos generais:“Por enquanto [ênfase], o racionamento está descartado na região metropolitana de São Paulo. Segundo especialistas, uma medida como essa tem efeitos colaterais que prejudicam a população [oh!!] de uma forma desigual”.
Fui assistir a cobertura do JN, na internet, por indicação do jornalista Eduardo Nunomura, que ficara abismado com o que viu na Globo:
Jornal Nacional, da TV Globo, dá manchete sobre a falta de água no sistema Cantareira. Mauro Arce, secretário tucano, aparece quatro vezes (repito, quatro sonoras). Quantas vezes aparece o nome do PSDB? Nenhuma. Quantas vezes apareceu o governador Geraldo Alckmin? Nenhuma. Racionamento? Não, não é bom, foi o tom geral. E as pessoas que já sofrem com a falta de água nas torneiras de suas casas? Nenhuma palavra. Por que não me surpreendo? (Eduardo Nunomura, no Facebook).
Achei que fosse exagero. Mas lá estavam as quatro falas do Mauro Arce, secretário de Alckmin: ele apareceu numa primeira reportagem, dizendo que não há risco ao se consumir água do ”Volume Morto”; depois, foi chamado pra rebater um técnico que defendia – sim - o racionamento já (Arce disse, nessa hora, que se deve evitar a expressão ”volume morto”); por último, o secretário teve espaço na Globo para explicar a tese de Alckmin, de que o racionamento deve ser evitado porque o “liga-desliga” do sistema poderia provocar danos e rachaduras nas tubulações.
E Alckmin propriamente? Na Globo, ele sumiu. Não foi citado. Alckmin e Volume Morto são a mesma pessoa, brincou outro dia um internauta… Mas na Globo, não!
As informações apresentadas pelos repórteres estavam corretas: as bombas para captar o tal volume morto, a quantidade que ainda há para se consumir nas próximas semanas, até a informação de que no fundo da represa “pode” haver metais pesados; tudo muito didático – com a competência técnica costumeira que se conhece nos telejornais da Globo.
Mas o diabo mora nos detalhes. E o detalhe foi que o governador sumiu. A falta de água foi tratada como um “dado da natureza”. E o racionamento como uma saída muito ruim – segundo “especialistas”.
O estranho é que, na reportagem mesmo, o único “especialista” que defendeu essa tese foi o próprio Arce. Um professor da USP – ouvido pelo repórter Fabio Turci – levantava dúvidas em relação ao que dizia Arce (ou seja: a dúvida estava lá, de forma discreta – mas factualmente correta). Só que a chamada da reportagem – na boca de Bonner – trazia o discurso que interessa a Alckmin propagar: “racionamento” deve ser evitado.
Não por motivos eleitorais. Mas porque afeta de forma desigual as pessoas. Ah, sim…
O nome do PSDB não foi citado, em nenhum momento – claro. O debate foi “técnico”. Igualzinho ao debate sobre Petrobras, não é?
Se o Álvaro Dias berra no JN quando o tema é Petrobras, por que ninguém do PT tem espaço para contestar o Mauro Arce e os tucanos? Por que? Tolinho esse escrevinhador…
A emissora da família Marinho fez um belo serviço de assessoria de imprensa para o governador. E os tucanos sabem ser generosos: no intervalo do JN, havia um polpudo anúncio do governo estadual.
Tudo muito civilizado. Limpo. Transparente – feito os balancetes da Sabesp.
Viva a liberdade de imprensa de Ali Kamel!
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