Claudias Cardinales, por Luis Fernando Veríssimo

Não é que o futebol não tenha lógica. É que a lógica do futebol é itinerante. Muda com o tempo e as circunstâncias. Como o amor no poema do Vinicius, a lógica é eterna enquanto dura — e nunca dura muito, pelo menos no mesmo lugar.

Era lógico, com os jogadores que tinha, que o Vasco da Gama fosse o grande clube brasileiro dos anos 50, base de qualquer seleção nacional. Anos mais tarde, a base de qualquer seleção nacional passou a ser, logicamente, jogadores do Santos e do Botafogo, os melhores da sua época.
Através dos anos, a lógica favoreceu outros grandes times brasileiros, como o Cruzeiro de Minas e ( bons tempos...) o Internacional de Porto Alegre. Times que caíam depois de alcançar a glória não caíam porque a lógica os abandonava arbitrariamente. Caíam porque é da natureza da lógica do futebol ser inconstante. Talvez tenha alguma coisa que ver com o fato de “lógica” ser do gênero feminino.
Por exemplo: a lógica do mundo do futebol nos últimos anos e até recentemente destacava dois times tão superiores aos outros que era difícil imaginá-los decadentes. Um pouco como a Claudia Cardinale no esplendor da juventude, tão mais bonita do que qualquer outra atriz do seu tempo que você não podia imaginá-la envelhecendo e tornando-se o que é hoje, uma senhora respeitável e simpática, ótima pessoa, não duvido, mas definitivamente não a Claudia Cardinale.
Tomamos seu envelhecimento como uma traição. O Barcelona de Messi, Xavi e Cia. e o Bayern Munich de Robben, Schweinsteiger e Cia. não estão tendo um bom ano e arriscam-se a, como a Claudia Cardinale, tornarem-se impostores de si mesmos. A lógica do futebol abandonou-os e concentrou em Madri, onde o Real Madrid foi buscar a Copa da UEFA na goela do Atlético de Madrid, que já se preparava para levá-la para casa, e em Lisboa, onde um improvável Sevilha derrotou o Benfica na decisão da liga europeia.
A decadência, passageira ou não, do Barcelona e do Bayern Munich deve nos alegrar. A seleção da Espanha é o Barcelona com alguns retoques e a da Alemanha é o Bayern Munich travestido. Como são duas das quatro favoritas na Copa que se aproxima (as outras duas, na minha opinião, são Argentina e Brasil), é bom que estejam mal. Má notícia é o que está jogando aquele argentino Di Maria do Real Madrid. Como se a Argentina precisasse de ainda mais força no ataque. Trememos.

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