Discurso dúbio de Eduardo Campos não soa como terceira via
Pela sexta vez em duas décadas, uma pergunta volta a se insinuar nas pesquisas eleitorais. PT ou PSDB?, eis a questão. Até num exame vestibular o sujeito dispõe de quatro alternativas. Na eleição presidencial, porém, a conjuntura volta a impor ao eleitorado a armadilha da pergunta única. Em 2014, deve-se a reiteração do fenômeno, sobretudo, à incapacidade de Eduardo Campos de se firmar como meio-termo entre Dilma Rousseff e Aécio Neves.
Acaba de vir à luz mais uma pesquisa do Ibope. Nela, Dilma escorrega de 40% para 39%. Aécio, desloca-se de 20% para 21%. E Campos recua de 11% para 10%. Levando-se em conta a puntuação dos candidatos-nanicos, esboça-se novamente um cenário de segundo turno. E o PSB de Eduardo Campos, a menos de quatro meses da eleição, ainda não se posicionou para estar nele. Por quê? Faltam um discurso e credenciais para sintetizar o sentimento de mudança.
Eduardo Campos é oposição ou situação? Difícil dizer. Ele morde Dilma. Mas sopra Lula. Ele enxerga méritos na era FHC. Mas fica tiririca quando Aécio diz que estarão juntos no futuro. O que é a ‘nova política’ de que tanto fala Eduardo Campos? Depende da geografia. Em Brasília, é o movimento vai “mandar Sarney à oposição”. Em Pernambuco, é uma coligação de 21 partidos —tão grande que a plateia fica autorizada a supor que só não inclui o Sarney porque ele é do Maranhão.
Quem entra numa disputa presidencial com cara de ‘to be or not to be’ corre o risco de nem chegar a ser. Até setembro do ano passado, Campos era governo e controlava posições no organograma oficial. Hoje, ele soa assim: “Não fico mais num projeto comandado por um bocado de raposa que já roubou o que tinha que roubar.” E a plateia: demorou 13 anos para perceber?
Numa parceria com o óbvio, Campos diz que Dilma entregará um país pior do que recebeu. E Lula: “Creio que o Eduardo não pode exagerar nas críticas porque ele sabe que é o mesmo projeto, o projeto do qual ele participou e que tantos avanços trouxe para Pernambuco e o Brasil.” Campos pondera: “Não vamos cuspir no prato em que comemos.” É nítido o esforço para soar mais realista do que o próprio Lula. O diabo é que o rei, além de abraçar Dilma, já elegeu Aécio como adversário incontornável.
Até aqui, a grande tacada de Campos foi a aliança com Marina Silva. Ambos trabalham para estreitar as diferenças entre o PSB e a Rede. Porém, os dois agrupamentos ainda não conseguiram enxergar o mundo da mesma maneira, antes de mudá-lo. Por ora, a terceira via atravessa uma situação parecida com a de uma piada do Millôr Fernandes sobre a tecnologia da engenharia chinesa.
De um lado da montanha, colocam 10 mil chineses para cavar. Do outro lado, mais 10 mil. Se os dois grupos se encontram no meio da montanha, inaugura-se um túnel. Se não se encontram, inauguram-se dois túneis. As turmas de Eduardo Campos e de Marina Silva continuam cavando. Ainda não se encontraram. E também não acharam a saída do buraco em que se meteram para salvar o país de uma nova polarização entre o que já foi e o que poderia ter sido.
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