Pedro Porfírio: Na primavera nem tudo são flores

É preciso muita calma nessa hora, é preciso ir fundo para entender para onde podem levar o Brasil

Por enquanto é temerário comentar o produto das urnas deste dia 5 de outubro, cujas características mais protuberantes foram os conflitos ameaçadores: se tivemos algumas boas novas nas escolhas majoritárias (executivos e senadores) já parece incontestável que entre os deputados a nova turma é ainda pior do que a anterior, cujo maior emblema é o descarado Eduardo Cunha,  patrocinador de expedientes nada republicanos, que ganhou um caminhão de votos. Quando o porta-voz da ditadura Jair Bolsonaro se faz o deputado federal mais votado do Estado do Rio com quase 500 mil votos temos de admitir que na primavera nem tudo são flores.

Obrigo-me pessoalmente a fazer uma verdadeira devassa nessa  eleição que insiste, por indefensável pressão do Judiciário, em proteger as urnas contra o elementar direito de conferência, ao  contrário do que acontece em países estigmatizados como não democráticos, como a Venezuela, em que cada voto eletrônico foi  comparado com o impresso numa das suas mais acirradas disputas.

É preciso ir fundo para saber por que o ministro Gilmar Mendes, conhecido por todo um histórico comprometedor, resolveu sentar sobre a decisão, já definida por maioria de 7 votos no âmbito do próprio Supremo Tribunal Federal, que proibia o investimento pragmático de empresas sob forma de financiamentos de campanha a quem lhe parecesse mais confiável.
Temos que entender o porquê da transformação de cada grande veículo de comunicação em palanque político com o propósito deliberado de impedir a reeleição de Dilma Rousseff, influir nas eleições estaduais e contribuir para essa bancada de baixíssima qualidade moral que vai continuar chantageando os chefes dos executivos como condição para a governabilidade.

Claro que o poder de uma articulação movida a interesses dolarizados não tirou o passaporte para a vitória final, no returno.  Mas assim como seus monitores não tiveram recato em atacar por todos os lados, operando com frieza as duas alternativas contratadas, o arsenal do retrocesso está mais azeitado do que nunca. É preciso analisar as coincidências em fatos envolvidos direta ou indiretamente com o processo de votação em si.

Há casos em que a opinião pública ficou sem entender nada. Enquanto a batalha campal atraía a distinta platéia, o Judiciário se concedia privilégios absurdos, como auxílio moradia para todos os juízes e auxílio-educação de até R$ 7 mil, sem falar na proposta de aumento linear de vencimentos que rompe com todos os parâmetros da razoabilidade. Não poderiam ter sido mais inoportunos  esses procedimentos que envolvem dinheiro público.

Neste momento, só posso me comprometer a jogar meus 53 anos de vida profissional como jornalista para tentar contribuir para a defesa do regime de direito porque sacrifiquei minha juventude, como quase toda uma geração, entre os quais muitos jovens desaparecidos, cujos familiares até hoje não conseguiram sequer saber o destino dos seus corpos.

Nas próximas reflexões, conto com a sua colaboração honesta. Sei que muito pouco posso influir, mesmo assim não me entregarei à amargura do pessimismo e do fatalismo.





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