Os dentes, por Fernando Brito

no Tijolaço
duas
A colunista Monica Bergamo, da Folha, publica hoje as histórias dos brasileiros que teriam resolvido ir para Miami por causa da eleição de Dilma Rousseff.


É um bom contraponto à matéria que publicada ontem com Marinalva Gomes Filha, a agricultora de Paulo Afonso, na Bahia, que não quer sair de lá e está feliz da vida porque ganhou uma dentadura e um cisterna para guardar água.
Pena não terem sido publicadas juntas, lado a lado.
Claro que a história dos “emigrantes” é, essencialmente, conversa fiada feito a pobre Lobão e sua decadência. Afinal, se o Brasil “está virando uma nova Cuba”, é preciso providenciar os “exilados em Miami” para compor o cenário, tão falso quanto aquele Aécio de papelão para osselfies de seus fãs.
Aquela senhora, Deborah Albuquerque,   que apareceu nas redesxingando os eleitores da presidenta de “imbecis e miseráveis” e dizendo que, como era rica, ia morar em Orlando, a cidade do Disneyworld, admite que era balela a sua bravata e que “tem uma carreira aqui” de, diz a matéria, de “modelo, atriz e jornalista”. Vai, afinal, vai ficar por aqui atuando como a sub-celebridade autointitulada “Barbie Fitness”.
A Dona Nalvinha  também vai ficar por lá, cuidando de sua plantação de pimentão, alface, coentro e pimenta de cheiro, esperando a água voltar a chover sobre o sertão e o dentista público voltar de férias para que lhe faça uma prótese mais confortável ao uso.
Ninguém, a não ser quem sempre quis ir, vai embora.
Uns ficarão bradando seu inconformismo por, já tendo tudo, não quererem que gente como a Dona Nalvinha possa dizer que “A bolsa [família] me acudiu a fome e a cisterna mata minha sede”.
Estourando seus champagnes enquanto praguejam por lhes faltar nem sabem dizer o quê, são incapazes de entender que ela possa ter razões muito mais práticas para dizer: “não tenho do que reclamar, não, moço” .
Dizem que ela é “bovina” na sua ignorância, como devem ser “bovinos” os outros 188 eleitores da seção onde votou D. Nalvinha, que deram 92% dos votos a Dilma, como milhares e milhões de outros que não têm quase nada, nem dentes, mas têm gratidão aos governos que, pela primeira vez, não os olharam como lixo.
Enquanto eles, que têm muito, menos humanidade, não são capazes de ter alguma gratidão ao país que lhes deu o que possueme uivam como lobos.
Os dentes de D. Nalvinha são subsidiados com o dinheiro dos impostos, mas o reluzente branco do sorriso da Deborah Barbie também continuará sendo, porque abatem-se seus bons cuidados no imposto de renda,
Mas os de Nalvinha são menos vorazes.

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