Jânio de Freitas: para lá da Petrobras

A conexão da Operação lava jato com a invstigação na Suiça trará a partir do ano que vem, um movimento inédito, incomum e salutar de pasmos e ruínas

no Folha

É conveniente fazermos uma reserva de espanto, para consumo em futuro não muito distante. Assim como aos políticos convém poupar, para suspenses vindouros, o medo de envolvimento pessoal ou do seu grupo com subornos, superfaturamentos e licitações fraudadas. Não só na Petrobras, nem só na área federal.

É que a Suíça não tem exército convencional, mas tem uma tropa de promotores e investigadores que elabora, com matéria-prima desencavada em seus bancos e empresas internacionais, bombas e obuses de eficiência inigualável. Usá-los não era muito comum, dada a impossibilidade de evitar que estilhaços caiam sobre a própria Suíça, com danos financeiros e morais grandes. Os costumes mudam, porém. E a artilharia dos promotores suíços está mais voltada para o Brasil que se supunha.




Mesmo sobre o caso Petrobras a investigação suíça está muito mais adiantada do que o método de delação premiada adotado no Brasil. Há uma razão preliminar para isso. A delação induz muitos delatados a confissões ou delações, mas nunca há a certeza de até onde abriram o jogo. As delações produzem resultados, sim, mas encontram outra dificuldade depois das possíveis omissões: sem o acompanhamento de provas, têm valor duvidoso para as denúncias e julgamentos.

Já o uso da investigação alimenta-se da percepção de ramais para novas investigações, levando a aprofundamentos e alargamentos. Os três procuradores brasileiros que chegaram domingo da Suíça, onde conversaram sobre o caso Petrobras, sabem que viram e ouviram pouco em apenas quatro dias. Mas o suficiente para estarrecer quem os ouviu aqui, mesmo estando por dentro da Operação Lava Jato.

Por si só, a conexão da Lava Jato com a investigação suíça vai trazer nos primeiros meses do novo ano um movimento incomum de pasmos, ruínas e indignações. Mas não será tudo. Devem começar então as revelações de outros feitos de generosidade corruptora das grandes empreiteiras. E ainda não será tudo. Também promotores e investigadores holandeses, cuja ação relativa ao Brasil tardou a ser sabida aqui, com sua colaboração inicial já motivaram nove linhas de investigação e processos na Controladoria-Geral da União, sobre fraudes, subornos e superfaturamentos.

Os que estão a serviço da entrada forte de empreiteiras no Brasil, sobretudo americanas, têm material em abundância para a campanha que iniciam com discrição.