A AGU (Advocacia Geral da União) tenta negociar com o TCU (Tribunal de Contas da União) um acordo de leniência com as empresas envolvidas no Lava Jato, com a intenção de preservá-las, sem prejuízo das ações penais contra executivos e controladores. Procuradores da Lava Jato respondem que, por não conhecer os detalhes dos inquéritos (sigilosos) a AGU poderá estar fazendo o jogo dos malfeitores.
Por seu lado a CGU (Controladoria Geral da União) também critica a eventualidade de um acordo, com receio de que possa aliviar as punições.
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Tudo isso demonstra que há uma notável assimetria nas informações sobre a Lava Jato.
Se a intenção dos órgãos de controle (MPF e CGU) for apenas a de punir os criminosos e não a de inviabilizar a economia; se a intenção da AGU for a de apenas preservar a economia e não a de livrar a cara dos criminosos, é evidente que a questão demanda uma mediação, uma autoridade maior que junte as partes, troque as informações e, sem prejuízo do sigilo das operações, ajude a chegar a um meio termo, que preserve a economia sem comprometer as punições.
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Em circunstâncias normais, o mediador dessa história seria o Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. Pelo seu histórico de indecisões, é claro que lhe falta dimensão pública e pessoal para essa tarefa.
Em circunstâncias normais, a presidente da República substituiria Cardozo por um novo Ministro, em condições de montar esse quebra-cabeça. Nas atuais circunstâncias, a presidente está imobilizada, incapaz de uma atitude pró-ativa em qualquer frente.
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Então, como fica?
É injusto atribuir aos grupos de mídia a responsabilidade pela preservação da Petrobras. Eles contribuem com louvores à encomenda que receberam de destruir a empresa.
O mesmo ocorre com a oposição. Em um dos telegramas da Wikileaks, o então candidato à presidência da República José Serra aparece negociando com um operador de petroleiras internacionais, prometendo acabar com o sistema de partilha no pré-sal, se eleito.
É igualmente injusto criar uma teoria conspiratória nova para explicar o papel das petroleiras. Afinal, trata-se de um método secular, inaugurado há mais de cem anos pelo primeiro Rockefeller. O setor apenas segue sua natureza.
Também é injusto responsabilizar o Procurador Geral da República e o Ministério Público pelo desmonte da empresa. Eles cumprem com sua missão, que é apenas a de investigar suspeitos e punir criminosos.
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Se cada grupo cumpre com sua missão, de quem é a responsabilidade pelo furacão que ameaça a Petrobras e toda a cadeia de petróleo e gás? É a presidente da República Dilma Rousseff.
O que tem a fazer é simples;
- Indicar um interlocutor para se reunir com a AGU, TCU e PGR com a missão explícita de preservar a Petrobras e a cadeia do petróleo e gás. Não vale alguém que esconda a reunião na agenda oficial.
- Junto com esses interlocutores, analisar objetivamente quais os limites à punição e até ao fechamento das empreiteiras, sem prejudicar o setor.
- Destravar o mais rapidamente possível a pauta Petrobras e começar a trabalhar o segundo governo.
Se não fizer, arriscará a entrar na história pela porta dos fundos.
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