por André Araújo
- Poucos políticos brasileiros tem a flexibilidade mental, o auto controle e a mente organizada como o ex-Ministro José Dirceu. A ele se deve a existência do PT, sem sua capacidade de organização de um lado e de estrategia de composição de forças de outro o PT não teria existido e Lula poderia no máximo ser um líder sindical, como Paulinho da Força. Foi graças a Dirceu que o projeto do PT se materializou.
Talvez por isso Zé Dirceu é alvo recorrente das forças antipetistas que se aglutinam de forma cíclica por espasmos.
Antes do PT ganhar a primeira eleição em 2012 o Governo dos EUA estava preocupado com a surgencia de um novo Chavez na América do Sul, seria Lula igual ou pior que Chavez? A importância estratégica do Brasil é muito maior que a Venezuela, Equador e Bolívia somados e multiplicados. A preocupação de Washington era real e justificada.
Quem representava essa nova força de esquerda, qual personagem seria o cérebro do movimento que estava por ganhar o governo do Brasil, aliado histórico dos EUA? Não houve necessidade de pesquisa, o cérebro era Zé Dirceu.
O governo Bush precisava um reconhecimento estratégico antes da eleição. Otto Reich, Sub secretario de Estado para o Hemisfério Ocidental que tinha a seu cargo a América Latina veio a São Paulo secretamente para se encontrar com Zé Dirceu. A reunião durou seis horas em um sábado, com a presença também da Embaixadora dos EUA e do Consul Geral em São Paulo, alem de William Perry, conselheiro politico do Departamento de Estado e considerado lá o maior especialista em Brasil, acompanhou pessoalmente e in loco todas as eleições brasileiras desde a redemocratização. Nesse encontro Zé Dirceu expos o plano de voo do PT, o projeto econômico e social e deu as garantias da preservação dos caminhos institucionais do Estado brasileiro. Dessa reunião surgiram acordos tácitos que garantiram o apoio do governo dos EUA ao novo governo a ser eleito, as pesquisas já davam como quase certa essa eleição.
Livro recente dá outra versão como sendo um aval de Fernando Henrique Cardoso para o governo patista usando suas relações em Washington. Essa versão tem um problema. FHC sempre teve ótimas relações com o Partido Democrata e especialmente com o ex-Presidente Clinton MAS seu relacionamento com os Republicanos era frio, especialmente com os Republicanos neocons, como era o grupo Bush. Explica-se: Os Republicanos historicamente detestam intelectuais, especialmente de esquerda, categoria onde FHC desponta como príncipe. Detestam ainda mais intelectuais de esquerda de aculturação francesa. Ao mesmo tempo, embora os Republicanos personifiquem os milionários americanos, eles tem em altíssima conta os "self made men", pessoas vencedoras por seus próprios esforços, aquilo que Lula é, ou seja, pessoas que não herdaram fortuna e devem tudo o que fizeram a seus próprios esforços. Dirceu vendeu essa visão de Lula para Otto e este, amigo intimo da família Bush, retransmitiu.
Otto Reich, judeu nascido em Cuba, provavelmente o maior inimigo vivo de Fidel Castro, encontrou-se com José Dirceu, provavelmente o maior amigo vivo de Fidel Castro, se entenderam perfeitamente bem e ficaram amigos. Desse primeiro encontro planejou-se uma semana depois uma viagem de Zé Dirceu a Wall Street e Washington.
Essa sólida ponte construida garantiu a economia no primeiro mandato e conferiu a Dirceu credenciais pessoais em Washington a tal ponto que, Dirceu já fora do poder, a Secretaria de Estado Condolezza Rice veio a Brasília e fez questão de almoçar com Dirceu antes de se encontrar com o Presidente Lula. Dirceu estava em Caracas e teve que voltar as pressas para almoçar com Condoleeza. Outras demostrações de prestigio politico ocorreram nessa época, Lally Weymouth, herdeira do jornal Washington Post ofereceu a Dirceu um jantar de 24 talheres em Nova York, cujos convidados foram os presidentes dos maiores bancos de Wall Street e esposas, isso em 2005 e Dirceu já em queda.
A desgraça do pensamento "politicamente correto" da hipocrisia moralista defenestrou Dirceu e Palocci, desmontando o plano de voo seguro do PT, cuja crise politica começa ai, em 2005 e dura té hoje.
O mensalão foi a desgraça do PT e do Brasil porque desmontou um xadrez politico equilibrado entre conquistas sociais e boa gestão econômica. Por causa do mensalão as corporações jurídicas ganharam um poder politico novo, que nunca tiveram antes e foram agregando mais e mais fatias de poder ater ter hoje condições de paralisar o Pais.
Por estas ironias da Historia, o governo mais direitista dos EUA dos últimos 40 anos teve entre 2003 e 2005 excelentes relações com um governo com projeto de esquerda no maior Pais da América Latina. Hoje o governo mais esquerdista dos EUA desde Roosevelt, tem más relações com o governo brasileiro, apesar do alinhamento ideológico obvio
de Obama e Dilma, dois "outsider" dos respectivos establishment políticos. A falta de um Zé Dirceu talvez seja parte dessas relações rotas, fazer esse papel da mente flexível não é tão simples como parece, poucos homens tem a capacidade de almoçar com Deus e jantar com o Diabo no mesmo dia, isso me lembra em Dirceu um traço de Talleyrand, respeitados os respectivos contextos históricos, geográficos e políticos.
Zé Dirceu, o Talleyrand Brasileiro
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