Economia e Política, por Luis Nassif

A trégua de que Dilma necessitava
"O Ministro da Fazenda Joaquim Levy foi bem sucedido em sua missão em Washington, de acalmar o mercado financeiro internacional. Obteve a aprovação do FMI e foi convincente em suas explanações sobre o quadro atual da política e da economia brasileira assim como a manutenção do rating brasileiro pelas agências de risco.
Não se trata da solução dos problemas brasileiros, mas de uma pinguela para permitir ao país aportar em terreno menos movediço.
O nó brasileiro não está nas contas internas nem na inflação: mas no déficit em transações correntes, em portentosos US$ 90 bilhões, ou 4,2% do PIB (Produto Interno Bruto).
A mudança do câmbio poderá reduzir o déficit para US$ 65,5 bilhões, segundo projeções de mercado. Mesmo assim, cria-se uma situação delicada em que o financiamento externo volta a depender de capitais voláteis.
Ainda há um bom caminho a ser percorrido até a economia bater no fundo do poço e se recuperar. Um dos próximos setores a desabar será o da indústria editorial, afetado pelos cortes na compra de livros didáticos pelo MEC (Ministério da Educação).
Além disso, persiste a paralisação da cadeia de petróleo e gás com a incompreensível inércia do governo Dilma em atuar para minimizar os efeitos da Lava Jato.
O STF (Supremo Tribunal Federal), o respeitado Ministro Teori Zavascki continuam reféns do espírito de turba que tomou conta do país, alimentado por uma mídia que atirou no próprio pé.
Ao investir reiteradamente por anos no derrotismo, a imprensa conseguiu acentuar uma crise já suficientemente grave devido a erros do governo. O primeiro efeito são os cortes nas verbas publicitárias dos grandes grupos, acirrando uma crise iniciada com os erros estratégicos da mídia.
Até agora, a única atitude do governo Dilma foi propor acordos inócuos de leniência comandados pela CGU (Controladoria Geral da União). Como, para aderir ao acordo, os acusados precisam confessar crimes, até agora ninguém aceitou essa autoincriminação.
A recuperação da economia se dará por duas âncoras: as exportações, puxadas pelo câmbio; e os investimentos em infraestrutura, puxados pelo câmbio e pelas novas regras de concessão.
Já existe uma movimentação nítida na indústria, com o desaquecimento do mercado interno e a recuperação relativa da competitividade externa, com o dólar acima de R$ 3,00.
É por aí que deverá atuar o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e a Apex (Agência de Promoção das Exportações), em um belo desafio à inteligência comercial acumulada nos últimos anos.
Some-se ao câmbio mais competitivo a relativa recuperação econômica dos Estados Unidos e da União Europeia.
Nos próximos meses não sairão novas concessões – como garantiu Levy em Washington -, mas expectativas de concessões, capazes de estimular o setor privado e o capital externo, especialmente devido ao fato do câmbio ter tornado o Brasil mais barato.
Some-se a esse quadro a pacificação da Petrobras e o arrefecimento das bandeiras do impeachment. Aliás, a única vítima da campanha do impeachment foi o senador Aécio Neves.
Esse conjunto de fatores criar a trégua necessária para Dilma matar uma curiosidade nacional dizer a que veio o segundo governo."



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