Autor: Fernando Brito
 Era o dia 12 de maio de 1980. O lugar,o velho hotel Serrador, no Centro do Rio. Ali, nas palavras de Brizola, “consumou-se o esbulho”.
A sigla PTB, bandeira de quase 30 anos de lutas do povo brasileiro, por artes de Golbery do Couto e Silva, foi entregue a Ivete Vargas e à direita. 35 anos depois, a farsa vira tragédia e a sigla, agora, é entregue ao DEM.
Impossível não ver de novo aquela cena, nem deixar de lembrar o que, sobre ela, escreveu três dias depois, no JB, Carlos Drummond de Andrade, O gesto de quem prefere rasgar seu grande amor na batalha, que fazer dele a mortalha de tudo o que significou.
Eu vi… Carlos Drummond de Andrade
Vi um homem chorar porque lhe negaram o direito de usar três letras do alfabeto para fins políticos. Vi uma mulher beber champanha(*) porque lhe deram esse direito negado ao outro.
Vi um homem rasgar o papel em que estavam escritas as três letras, que ele tanto amava. Como já vi amantes rasgarem retratos de suas amadas, na impossibilidade de rasgarem as próprias amadas.
Vi homicídios que não se praticaram mas que foram autênticos homicídios: o gesto no ar, sem conseqüência, testemunhava a intenção. Vi o poder dos dedos. Mesmo sem puxar o gatilho, mesmo sem gatilho a puxar, eles consumaram a morte em pensamento.
Vi a paixão em todas as suas cores. Envolta em diferentes vestes, adornada de complementos distintos, era o mesmo núcleo desesperado, a carne viva; E vi danças festejando a derrota do adversário, e cantos e fogos.
Vi o sentido ambíguo de toda festa. Há sempre uma antifesta ao lado, que não se faz sentir, e dói para dentro.
A política, vi as impurezas da política recobrindo sua pureza teórica. Ou o contrário… Se ela é jogo, como pode ser pura… Se ela visa o bem geral, por que se nutre de combinações e até de fraudes.
Vi os discursos…
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