A "Casa de pedra" e seu papel na lista de furnas


A "Casa de Pedra", em BH, onde teria sido entregue propinapor Joaquim Carvalho

A casa de número 50 da avenida Eurico Dutra, no Belvedere, um bairro de classe média alta da capital mineira, onde Aécio Neves teve 90% dos votos válidos da última eleição, é o que se poderia chamar de uma fortaleza.



Ela pertence à prima de Aécio, Tânia Guimarães Campos, que mora ali com o marido, um construtor de obras públicas. Nesta casa, o ex-policial federal Jayme Alves, conhecido como Careca, teria entregue R$ 1 milhão de reais, dinheiro de propina, a um homem muito parecido com o senador Antônio Anastasia, ex-governador de Minas Gerais.
A denúncia da propina já era conhecida desde que a Polícia Federal ouviu em depoimento o ex-policial Jayme, mas a história perdeu força quando o procurador-geral Rodrigo Janot determinou o arquivamento da investigação contra Anastasia, por considerar os indícios insuficientes para a abertura de um processo.
Há dias, vazou a informação de que a PF pediu ao ministro do STF Teori Zavaski que mantenha a investigação, contrariando a manifestação do procurador-geral, pois teriam surgido fatos novos. Que fatos novos são estes? A casa de Tânia Guimarães é um deles. Mas isso basta para reabrir a investigação?
O PSDB já divulgou nota na mesma linha de defesa usada em situações em que se viu em apuros. É tudo armação, Aécio é vítima. No caso da Lista de Furnas, o partido divulgou a versão de que a Lista era falsa. O tempo e a perícia da Polícia Federal provaram que não. A lista era autêntica.
E o que tem a casa da prima de Aécio que pode complicar a vida de seu grupo político? Há na sua fachada muitas câmeras que registram a entrada e saída de qualquer pessoa. Um ex-aliado de Aécio, que já freqüentou o local, diz que o problema não são as câmeras externas, mas as internas.
“A casa é um Big Brother, tem câmera para todo lado, até no quarto do casal, mas essas câmeras são voltadas para a porta e para o banheiro, não para a cama”, conta.
Há câmeras nas salas, nos corredores e no escritório. Uma central, que funciona fora do imóvel, pode gravar tudo o que se passa ali. Isso é fato. O ex-aliado de Aécio, que hoje não priva da intimidade da família, diz que a fonte da informação da Polícia Federal é uma mulher que trabalhava na segurança do imóvel.
Ela teria o registro do encontro de Anastasia com o ex-policial na casa de Tânia e teria tomado a iniciativa de enviar diretamente ao Palácio do Planalto um email com a reprodução de alguns alguns quadros da imagem gravados pelo circuito interno. É esse email que teria sido enviado ao Ministério da Justiça e daí à Polícia Federal.
Fato também é que, além das câmeras, a casa é conhecida pelas festas. Um vizinho contou que já viu ali, além de Aécio, Ronaldo Fenômeno, Luciano, da dupla Zezé di Camargo, Luciano Huck (sem Angélica), e ex-jogadores como Palhinha, Piazza e até Rivelino. “É uma casa freqüentada por celebridades”, diz o vizinho.
Tentei conversar com Tânia Guimarães Campos. Apertei a campainha e cães começaram a latir. Deu para ver por uma fresta do portão de madeira que eram buldogues brancos. Logo depois, uma mulher apareceu no muro para dizer que Tânia e o marido viajaram e só voltam depois do feriado.
No trabalho de apuração da Lista de Furnas, a casa da prima de Aécio pode voltar a aparecer, porque, tanto naquele caso quanto no de Anastasia, o doleiro Alberto Youssef é a assombração que tira o sossego do grupo político que fincou raízes no estado e esparramou-se pelo Brasil.
no Diário do Centro do Mundo